Inácio: José Alencar já está fazendo falta


O PCdoB, homenageando esse velho guerreiro do povo brasileiro, reafirma que continuará na luta por um país soberano, desenvolvido, com justiça e inclusão social. José Alencar, um abraço!

No último dia 29, homenageávamos no Senado um dos mais íntegros homens da vida política brasileira, o ex-parlamentar e ex- governador Mário Covas, amigo da liberdade e inimigo da ditadura, quando fomos informados do falecimento de um grande patriota e também político de alta dignidade, o ex-senador e ex-vice-presidente da República, José Alencar. Referi-me, então, ao encontro fantástico do torneiro mecânico Luiz Inácio Lula da Silva com o empresário José Alencar Gomes da Silva. Os dois Silva, um, retirante nordestino; o outro, homem simples do interior de Minas Gerais, que deu um “duro para burro” para vencer na vida.

Lula e José Alencar foram por duas vezes eleitos presidente e vice do Brasil. E já na primeira campanha, José Alencar disse: “Para construir a Nação, para soerguê-la, para fazê-la caminhar de pé, olhando de frente para todos no mundo inteiro, o meu papel é de uma relação íntima com todos”. Assim fez. José Alencar percorreu as federações de indústrias, foi às universidades, aos sindicatos de operários, de trabalhadores, dialogou com a população na rua, com os intelectuais, com o mercado.

Depois de eleitos, muita coisa que o presidente Lula não podia falar, ele, como vice-presidente, podia dizer. E disse sempre! Ele denunciou o escândalo criminoso das taxas de juros para a economia nacional. Disse, com força, com energia, com garra e com disposição. Ele dialogou com a esquerda, sentou com os comunistas. Na cidade de Belo Horizonte, capital do seu Estado, na última batalha municipal, ele decidiu apoiar a candidata do PCdoB, Jô Moraes. E foi uma batalha, pois todos, indistintamente, queriam o seu apoio. Mas José Alencar decidiu pelo PCdoB. Vejam que personalidade extraordinária!

Na Convenção Nacional do PCdoB, realizada em junho em Brasília, quando oficializamos o apoio à então candidata Dilma Rousseff, José Alencar, mesmo adoentado, fez questão de comparecer e, da nossa tribuna, explicou a amizade aparentemente inusitada entre um grande empresário e os comunistas. Essa amizade vinha das afinidades e coincidências entre seus posicionamentos políticos e os do PCdoB. Vinha da defesa que fazemos da soberania nacional e do desenvolvimento com inclusão social.

E José Alencar já está fazendo falta. Neste momento, vivemos um grande debate sobre rumos econômicos do nosso país. E mais uma vez centrado na questão dos juros e da inflação. Ainda velávamos o corpo de José Alencar no Palácio do Planalto, no dia 30, quando o Banco Central anunciou que desta vez não arcará com todos os custos necessários para trazer a inflação ao centro da meta, de 4,5%. O diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, afirmou que o governo vai trabalhar “para tentar impedir que a inflação se afaste muito do centro da meta para facilitar o trabalho de convergência em 2012. Agora, visamos conter os efeitos de segunda ordem”. Com isso, indicou que está disposto a fazer um aperto monetário mais ameno, com menos juros e mais uso de outros mecanismos de contenção do crédito.

Foi o que bastou para que analistas econômicos e jornalistas a serviço do capital financeiro dessem a grita contra a política de desenvolvimento. Para eles, o país deve manter as taxas mais elevadas de juros de mundo – um mecanismo cruel de transferência para os rentistas da riqueza produzida, e de pauperização dos trabalhadores, que devem trabalhar, mas não usufruir do fruto de seu trabalho.

Ora, os preços dos produtos destinados ao mercado interno respondem à redução da demanda interna provocada pela elevação da taxa básica de juros via redução de custos (basicamente salários) e de margem de lucros. E esses preços (não-exportáveis) representam somente um terço do IPCA, em relação a dois terços que compreendem os preços monitorados e os bens exportáveis. A conclusão a que se chega é da inoperância da política monetária de controlar os preços-chave da economia, penalizando assalariados, ameaçando empregos. A inflação brasileira deriva de sua exposição excessiva aos choques externos e à volatilidade cambial. O que se vive hoje é um choque de oferta externa e não um choque de demanda interno.

Por isso, o que precisamos é de juros mais baixos, que propiciem mais investimentos, a geração de mais empregos e a distribuição de renda e inclusão social. Ou seja, precisamos daquilo que José Alencar preconizava. “Como vamos crescer, gerar empregos e distribuir renda com o país cada vez mais empobrecido? O empobrecimento advém desses juros que nós temos de derrubar para valer quanto antes”, disse Alencar à revista Época, já em abril de 2003.

O PCdoB, homenageando esse velho guerreiro do povo brasileiro, reafirma que continuará na luta por um país soberano, desenvolvido, com justiça e inclusão social. José Alencar, um abraço!

Inácio Arruda é senador do Ceará e líder do PCdoB no Senado Federal