Um dia após a visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao Brasil, o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) criticou a Base de Guantânamo, em Cuba, que, segundo o senador, serviria para tortura e sequestro de pessoas em todo o mundo. Inácio afirmou que é paradoxal um país “belicoso” defender a agenda dos direitos humanos.
Sobre as relações comerciais, Inácio Arruda defendeu que o Brasil deixe de vender produtos primários e passe a exportar manufaturados não só para os Estados Unidos, como China e Europa. Para ele, o Nordeste oferece melhores condições para indústrias, não só pelo menor preço da mão de obra, como também pela facilidade de transporte.
Leia a seguir a íntegra da entrevista concedida ao jornal O Estado.
O Estado: A visita de Obama representa um marco para a América Latina e para o mundo?
Inácio Arruda: Os americanos são muito ávidos nessa posição, eles sempre deixam claro que o que prevalece nas relações dos Estados Unidos com qualquer país do mundo são os interesses americanos. É importante estreitar os laços, as relações de amizade, mas o que vai prevalecer é o debate e a tentativa nossa de ampliar o leque de produtos que nós podemos oferecer para o mercado americano, os negócios que nós poderemos fazer, vendendo para os Estados Unidos. Os Estados Unidos vão tentar manter seu enorme superávit com a balança comercial brasileira, vão buscar os interesses relativos à compra de aviões para o Brasil, de jatos para as Forças Armadas. E o panorama mundial, sempre que tem a oportunidade, dois presidentes da estatura do Obama e da Dilma, vão fazer esse balanço. Os EUA na sua agenda com algo que importa apelo midiático internacional, que eles não praticam, de forma nenhum, que é a agenda dos direitos humanos. Um Estado belicoso não pode estar com a agenda dos direitos humanos. É um paradoxo. Aquela base de Guantânamo está dentro do Estado Cubano, e é uma base militar americana que serve para tortura, sequestro de pessoas no mundo inteiro, anúncio de prisão de terroristas, sendo que os terroristas são os próprios americanos.
O Estado: Quais são as medidas legislativas possíveis para que as relações do Brasil e dos Estados Unidos melhorarem?
Inácio Arruda: Durante a Guerra de Secessão, o Ceará ocupou, juntamente com o Rio Grande do Norte, mesmo o Piauí, a Paraíba, a posição de maior vendedor de algodão para os Estados Unidos, e nos transformamos, na época, no maior produtor de algodão do Brasil. De lá pra cá, essas relações se mantiveram bem estruturadas, mas predominou sempre a força das manufaturas americanas contra os produtos primários brasileiros. Estive com o secretário executivo do Ministério da Fazenda [Nelson Barbosa] e com o presidente do Banco Central [Alexandre Tombini], e tratei de como nós podemos parar de vender uma tonelada de ferro por R$ 100– até o Ceará está vendendo ferro pra China – e comprar trilhos por R$ 800. O beneficiamento do ferro para transformar em trilho é muito pequeno. Isso significa quase que exportar empregos e importar produto beneficiado num valor altíssimo. Nós não podemos mais vender produtos só primários, o ferro como produto bruto, o café como grão. Trezentos anos de venda de café, e nós estamos vendendo grão. Não dá para melhorar nossa balança comercial desse jeito. O Senado tem a obrigação de criar dificuldades para venda de produtos primários. Como fazer com que nações com economia forte, como é o caso dos Estados Unidos e da China, invistam mais aqui, ao invés de venderem seu produto. Se os chineses querem aumentar suas relações com o Brasil, vamos transformar esse investimento em produção aqui. Nós queremos as fábricas da China aqui. Produz aqui e vende lá, nos Estados Unidos, não tem problema. A mesma coisa vale para os americanos. E ao mesmo tempo fortalecer as associações nossas, as nossas empresas com empresas americanas, e chinesas, mantendo parte significativa do capital nacional nessas empresas, porque isso fortalece a presença do Brasil. Nós temos que continuar investindo forte na Ciência e Tecnologia, deslocar parte do parque industrial brasileiro para o Nordeste, porque distribui melhor a produção, diminuem custos de transporte para os Estados Unidos, Europa e Ásia, e ao mesmo tempo diminuem os custos da produção do ponto de vista da participação do trabalho. Você pode ter condições de empregabilidade no Nordeste e no interior com preços menores do que você tem nas grandes capitais, no Sudeste e Sul do país.
O Estado: Como o Nordeste, com suas vocações, pode adequar-se para melhorar essas relações do Brasil com os Estados Unidos, principalmente na área de energia?
Inácio Arruda: Todos os lotes da próxima rodagem de leilão da Agência Nacional de Petróleo para produção de gás de petróleo no Nordeste vão ser comprados. Não há nenhum lote que não vá ser arrematado. Nós temos exatamente, ali, sendo construídas três refinarias de Petróleo, e ampliada uma quarta no Rio Grande do Norte. Um dos lotes que vão estar dispostos no leilão é no Piauí. Só coloca no leilão hoje quando as perspectivas são boas. Isso cria uma nova situação para o Nordeste. Parte da região vai se manter, ainda, como grande produtora de grãos, porque está sendo aberta uma nova fronteira agora, do Maranhão e do Piauí, especialmente. Nós temos a possibilidade de encontrar mais gás e mais petróleo na região. Esse Petróleo e o gás ainda serão, por muitos anos, muito importantes, pela escala de energia que você necessita. Todas as nações precisam de grande escala. Além disso, nós temos na região, o potencial do biocombustível e da energia eólica.