A nova majoração, de 0,5% da taxa Selic, decidida dia 2 de março pelo Comitê de Política Monetária (Copom), corrói a economia brasileira. Os cortes no orçamento para o ano de 2011de 50 bilhões de reais e, logo em seguida, o aumento da taxa básica de juros para 11,75%, dão indicações de favorecimento ao capital financeiro, em detrimento do desenvolvimento do país.
Essas medidas levam ao esfriamento da economia, como denunciam as entidades de trabalhadores e também as entidades dos empresários vinculados à produção. Fazem parte do receituário neoliberal, que tanto jogou para trás a economia de vários países do mundo – inclusive do Brasil, em governos anteriores que o adotavam por completo. Prejudicam os setores produtivos, os trabalhadores e o povo, e beneficiam os grandes investidores do mercado financeiro.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a economia brasileira cresceu 7,5% em 2010 na comparação com o ano anterior – o maior desde 1986 – e foi o consumo das famílias brasileiras que sustentou esse crescimento. Esse índice foi alcançado graças ao aumento dos investimentos públicos, ao crescimento na geração de empregos e aos aumentos reais do salário mínimo e das conquistas salariais das categorias. Mas as altas taxas de juros, que o Copom insiste em perpetrar, abatem o consumo e freiam a produção.
Segundo o economista Márcio Pochmann, apenas 20 mil famílias de super-ricos são beneficiadas por 70% dos juros da dívida pagos pelo governo. No ano passado, estes juros chegaram a R$ 200,5 bilhões, dos quais R$ 140 bilhões foram embolsados por esta minoria, que certamente está festejando a nova resolução do Copom.
Ao tempo em que realizam cortes orçamentários na área social, previdenciária, na manutenção da máquina pública e em investimentos para alavancar a economia, os que comandam a política econômica não incluem em suas metas de corte a parte dos juros pagos aos rentistas. Na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, foi revelado que cada 1% na taxa básica de juros representa um gasto governamental de 0,28% do Produto Interno Bruto do Brasil (cada 0,5% representam cerca de R$ 5 bilhões), e essa taxa tem crescido a cada reunião do Copom, quando todos anseiam, e o Brasil necessita, a sua diminuição!
O Banco Central tem colocado como questão primordial o problema da inflação, a necessidade de controlá-la, e com isso tenta justificar a taxa de juros mais alta do mundo. Ora, ainda em fevereiro último, o Banco da Inglaterra, como é conhecido o Banco Central britânico, anunciou a manutenção da taxa de juros do país em 0,5% ao ano, embora a taxa de inflação do país (7%) tenha sido quase o dobro da meta (%) fixada pelo governo. E o presidente do Banco da Inglaterra, Mervyn King, justificou a decisão alegando que, mesmo que a inflação aumente nos próximos meses, o índice pode cair no ano que vem e a prioridade é recuperar a produção, pois a economia inglesa sofreu uma retração de 0,5% em 2010. O mesmo problema – a ameaça inflacionária –, com soluções opostas: lá, a busca do crescimento; aqui, a desaceleração.
É importante notar: enquanto os juros brasileiros vão para 11,75%, os da Rússia estão em 7,75%, os da Índia em 6,5% e os da China em 6,06% – isso para citar apenas os países que formam o chamado Bric. Descontada a inflação, as taxas desses países vão mais para baixo ainda.
O enfoque da política macroeconômica brasileira tem que mudar. É preciso focar na produção, na geração de empregos, na distribuição de renda, na manutenção do desenvolvimento. É necessária uma nova orientação para a política macroeconômica. A atual está esgotada, ainda é herança que veio de alguns tempos atrás. O Brasil – governo e sociedade civil – precisa debater e estabelecer novos rumos para a nossa economia, que contemplem desenvolvimento, crescimento com distribuição de renda e reafirmação da soberania do país.