Apesar da relevante participação das mulheres na história do país, em especial no processo de redemocratização, ainda é necessário lutar por uma presença feminina maior na política, afirmou Maria Ruth Cavalcante, agraciada com o Diploma Bertha Lutz . Em solenidade no Plenário na manhã desta terça-feira (º), ela falou em nome das demais homenageadas em 2011.
– Mesmo com as evidências das transformações sociais ocorridas no Brasil, com todas as conquistas das mulheres nas áreas da educação, saúde e mercado de trabalho, falta ainda criar condições para a efetiva constituição da mulher como sujeito político – disse.
Pedagoga dedicada à educação de jovens e adultos, Maria Ruth Cavalcante lembrou o trabalho de Bertha Lutz na construção dos fundamentos da identidade social, política e cultural do país. Conforme ressaltou, as agraciadas com o diploma representam todas as mulheres brasileiras e seu trabalho pela construção do país.
– Como geradoras de vidas que somos, geramos filhos, mas também geramos idéias e projetos. Buscamos manter a força da delicadeza, a firmeza da serenidade e a sabedoria da ação, mas sem abrir mão nunca do nosso sonho maior, que é promover a felicidade de todo um povo – disse
Para a homenageada, as mulheres hoje enfrentam o desafio de "ocupar definitivamente os espaços de poder nos âmbitos público e privado, ampliando a capacidade de decisão política das mulheres".
Maria Ruth Cavalcante também saudou a presidente Dilma Rousseff, afirmando que a eleição de uma mulher para a Presidência da República representa "um momento histórico e simbólico".
Pronunciamento da Sra. Maria Ruth Barreto Cavalcante
Exma. Sra. Senadora Marta Suplicy, Vice-Presidenta do Senado Federal, em nome de quem saúdo todas as Senadoras e os Senadores que prestigiam este ato. Senadora Vanessa Grazziotin, Presidenta da Comissão Bertha Lutz, a minha saudação também.
Peço licença, já que foi quebrado o protocolo, para dirigir uma saudação especial ao Senador do meu Estado Inácio Arruda, que foi membro titular do Diploma, em nome de quem saúdo todos os conselheiros dessa Comissão. Quero destacar que, para nós, o Senador Inácio Arruda vai muito além da representação política dos cearenses. Ele tem a habilidade de se fazer amado por todos nós.
Exma. Sra. Vice-Presidenta da Câmara dos Deputados, Deputada Rose de Freitas; Exma. Sra. Deputada Janete Rocha Pietá, Coordenadora da Bancada Feminina da Câmara dos Deputados.
Minha senhoras e meus senhores.
Sinto-me honrada pelas mulheres que hoje são agraciadas por me oferecerem a confiança de representá-las aqui: Carmen Helena, Chloris Casagrande, Liège Rocha, Maria José e, in memoriam, Ana Vasconcelos, aqui representada por sua irmã, Maria das Graças.
A honra de estar neste momento recebendo o Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz 2011 é muito grande para todos nós. É uma grande honra trazer no peito uma comenda que representa a memória dessa imortal ativista, que, atéos 82 anos de idade, levantou a bandeira contra a discriminação da mulher e foi defensora ardorosa dos direitos humanos.
Ela nos inspira a continuar lutando para que mulheres e homens sejam cidadãs e cidadãos livres, com os mesmos direitos e as mesmas oportunidades, livres para escolher caminhos guiados pelo gosto da liberdade, como tão bem nos ensinou a geração 1964/1968, da qual, com muito orgulho, eu faço parte.
Foi graças a mulheres como Bertha Lutz, que extrapolou as fronteiras brasileiras, participando dos movimentos feministas da Europa e dos Estados Unidos, que fomos construindo os fundamentos da identidade social, política e cultural do nosso País.
Bertha Lutz, com a sua militância científica e política, lançou as bases do feminismo entre nós.
Daí porque a participação da mulher hoje é reconhecida nessa construção. Da mesma forma, somos hoje reconhecidas também como responsáveis pela redemocratização do País, tendo algumas de nós oferecido a própria vida na resistência à ditadura militar.
Mesmo com todas as evidências das transformações sociais ocorridas na sociedade brasileira, todas as conquistas das mulheres nas áreas de educação, saúde e mercado de trabalho, resta ainda serem criadas as condições para a efetiva constituição da mulher como sujeito político. A política continua sendo um lugar da presença feminina por excelência.
Bertha Lutz lançou a semente do direito de voto antes mesmo das mulheres francesas e foi a grande responsável pela conquista do voto feminino, tendo em seguida ocupado a cadeira no Parlamento. Essa semente foi cuidada por muitas outras mulheres que a seguiram. Hoje estamos diante do desafio de ocupar definitivamente os espaços de poder nos âmbitos público e privado. Dessa forma, ampliando a capacidade de decisão política das mulheres.
Atos como este, que têm visibilidade no País inteiro, nos dão a oportunidade de promover a recuperação histórica da atuação das mulheres. Muito nos alegra essa distinção que hoje recebemos, momento também histórico e simbólico em que elegemos a primeira mulher para dirigir os destinos do nosso País. A Presidente Dilma sabe muito bem avaliar o significado de direitos cerceados. Não é outra a razão pela qual ela se coloca tão claramente em relação à defesa dos direitos humanos.
Recebemos esse diploma como uma homenagem, mas muito mais como um reconhecimento do significado da presença feminina na história do Brasil. Nós somos aqui cinco mulheres e uma em memória, de diferentes regiões de nosso País, com diferentes atuações na vida social, mas com plena consciência de que estamos em um lugar onde milhões de outras brasileiras também deveriam estar. Mulheres que souberam combinar força esuavidade na busca dos direitos iguais, respeitando as diferenças, contribuindo para o País com a nossa inteligência afetiva, como sujeitos sócio-históricos, políticos e culturais. A nossa postura na sociedade é a da mãe em vigília contra toda prática de desumanização e desrespeito ao valor da vida.
Nós acreditamos e temos fé na vida. Como geradoras de vida que somos, geramos filhos, mas também ideias, projetos. Geramos principalmente sonhos, que alimentam a alma, com paixão e muita compaixão, tendo a solidariedade como compromisso histórico de mulheres e homens que ritualizam a vida na busca de promover e instaurar uma ideia universal do ser humano. Buscamos manter a força da delicadeza, a firmeza da serenidade e a sabedoria da ação, sem abrir mão do nosso sonho maior, que é promover a felicidade do nosso povo. Para isso, ousamos esperar que a sensibilidade e a ternura triunfem.
Irmanada com todas as mulheres, encontro dentro de mim a mulher e o homem na eterna busca de evolução humana.
Senhoras e senhores, ofereço esta homenagem por um dever moral a todas as mulheres do nosso País e do mundo, especialmente a todas aquelas que permanecem excluídas, como as negras, as idosas, aquelas com deficiência, aqui representadas por minha filha Mariana, as índias. (Palmas.)
Rendo, por fim, homenagem comovida às jovens mulheres do campo e das cidades que tombaram na resistência à ditadura militar. (Palmas.)
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