A União Nacional de Negros e Negras pela Igualdade (UNEGRO), seção Ceará promoveu no último sábado (/02), um encontro estadual. O evento realizado no Sindicato dos Bancários teve como objetivo lançar o Congresso da entidade no Estado e contou com as presenças de Edson França (Presidente Nacional da UNEGRO) e de Jerônimo Silva, também diretor da entidade.
Foi com atabaques, maracás e agogôs que os índios da região de Crateús iniciaram o encontro, envolvendo os participantes do seminário na dança do Toré. Após a apresentação cultural, foram feitas breves saudações de representantes da Secretaria de Justiça (SEJUS), da Prefeitura de Maranguape, das assessorias do Senador Inácio Arruda e da Vereadora Eliana Gomes, Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Babalorixá Pai Renato e da União Cearense Espírita de Umbanda.
Unidade entre Negros e Índios
O Presidente da UNEGRO, Edson França, foi um dos convidados para representar a entidade. Ele agradeceu o convite e fez um breve histórico da UNEGRO, ressaltando os desafios das discussões e algumas polêmicas superadas. “A compreensão inicial era que a luta passava pelo racismo dentro do objetivo da alteridade. Depois passamos a entender que a discussão é dentro do campo político”, afirmou.
Edson conclamou a união de negro e índios apontando as diferenças e a necessidade de, no contexto da luta, concretizar a unidade e pensar políticas públicas conjuntas. “Hoje existimos porque tivemos a capacidade de nos unir e aqui está o resultado: esse encontro que envolve a diversidade é para nos alimentar de estratégia e tática para o embate”, acentuou.
O papel da UNEGRO na atualidade
A entidade tem 23 anos e sempre pautou as necessidades da igualdade racial e a superação de preconceitos e opressão no Brasil. Segundo Edson França, a UNEGRO foi a primeira entidade a estimular a criação de secretárias dentro das entidades de classe para debater a temática. “Passamos a participar desse debate porque o palco de discriminações é principalmente no mercado de trabalho, então pautar essa discussão dentro dos sindicatos é uma das nossas tarefas”.
A UNEGRO também participa da Coordenação dos Movimentos Sociais, em conjunto com a UNE, MST , CTB e outras entidades do campo social. Para Edson França, a inserção da UNEGRO nesse fórum é para motivar outras entidades a se apropriarem desse debate. “O movimento popular precisa entender que nossa luta não é problema de negro ou de índio e sim uma questão a ser enfrentada por toda a sociedade”.
O presidente da UNEGRO reconhece que, a partir do governo Lula, as políticas públicas desenvolvidas beneficiaram a população negra e destaca como uma vitória a criação do Estatuto da Igualdade Racial. “Foi um processo de acúmulo de ações e o Estatuto aprovado é uma tentativa de resolver os problemas existentes. Precisamos fazer com que seja colocado em prática o que aprovamos”, reforçou.
Desafios para a UNEGRO
“O Estado é o instrumento de opressão de uma classe sob outra”. Partindo dessa premissa, Edson França pontuou alguns desafios para que a UNEGRO possa contribuir com a luta social e, junto com as camadas populares, lutar por hegemonia. Uma delas é a participação da entidade nos mecanismos de controle.
Edson criticou o movimento social por não se apoderar de alguns espaços importantes como as discussões orçamentárias. “Precisamos acompanhar os debates sobre os orçamentos municipais, porque enquanto os parlamentares aprovam o que vão fazer com os recursos, nossos camaradas, infelizmente, estão discutindo somente o racismo esquecendo que a concretização dessa luta se faz nas decisões governamentais”, lamentou.
Outro ponto defendido foi no campo da disputa eleitoral, passando pela capacitação de pessoas e formulação de programas de governos com propostas dos segmentos. “Essa preparação deve ser contínua, disputando eleições e se houver derrota, devemos nos preparar para a eleição seguinte, reforçando uma boa base com discurso afinado, de acordo com as nossas propostas”, completou.
E como desafio fundamental, Edson França elencou a construção da UNEGRO em uma entidade de massa e defendeu a necessidade de investirem em pessoas novas, consolidando também a aliança entre negros e índios. “Não queremos uma entidade feita por um grupo de pessoas que tenham propriedade do debate, lutamos para que o povo se apodere e saiba a importância de combater o racismo e a opressão. Precisamos reagir à histórias mal contadas de que não existiu negro e índio no Ceará e isso só vamos romper com a convicção de que precisamos de unidade e organização”.
A participação indígena
Para o Cacique Renato, primeiro índio do Ceará a assumir uma cadeira no parlamento municipal pelo PCdoB, em Crateús, relatou a sua participação no parlamento e como foi importante para promover alguns direitos para as pessoas mais carentes de Crateús. “Mesmo por quatro meses, conseguimos encaminhar medidas e isso ajudou muito no crescimento da cidade”, reforçou.
Cacique Renato ressaltou a importância da unificação da luta e criticou o Estatuto da Igualdade Racial por não inserir outros segmentos que participaram das discussões. “Infelizmente, nós índios, ciganos e outros participamos da construção do Estatuto e não somos contemplados”, alertou.
Durante o encontro foram apresentadas as formas de participação do Congresso da UNEGRO marcado para julho deste ano, em Brasília. A coordenação da entidade no Ceará realizará etapas regionais em Sobral, Inhamuns, Cariri, também Fortaleza e Região Metropolitana.