Uma sessão solene no Senado Federal, no dia 17 de novembro, marcará as comemorações do centenário da escritora cearense Rachel de Queiroz, a primeira mulher a entrar na Academia Brasileira de Letras, em 1977, ocupando a cadeira de nº 5. A iniciativa é do senador Inácio Arruda, através do requerimento N° 256/2010, aprovado no plenário do Senado.
“Homenagear Rachel de Queiroz, é demonstrar, mais uma vez, o reconhecimento pelo legado cultural que o Brasil recebeu dessa ilustre cearense. Dessa forma, estaremos estendendo o conhecimento de sua obra às gerações mais recentes e valorizando aquilo que é do Brasil, que é do Ceará”, afirma Inácio, explicando que novembro foi escolhido para a realização da sessão solene por ser o mês de aniversário da escritora, uma das personalidades mais queridas da literatura brasileira.
Durante a sessão solene, o senador Inácio Arruda vai distribuir cópia do fac-símile manuscrito do livro “O Quinze”, obra que consagrou Rachel de Queiroz como uma das maiores escritoras brasileiras. O manuscrito foi disponibilizado para o Senado Federal por José Mindlin, presidente da Sociedade de Cultura Artística e colecionador de livros raros desde os treze anos de idade e teve sua publicação autorizada por Maria Luiza de Queiroz Salek irmã da escritora.
Ainda como forma de trazer essa comemoração para o Senado e para todo o Brasil, Inácio Arruda propôs também, através do projeto de lei (PLS 559/2009), que 2010 fosse o “Ano Nacional Rachel de Queiroz”. Segundo o senador cearense, a instituição de um Ano Nacional dedicado a figuras públicas notáveis tem sido uma das maneiras de se prestar o devido reconhecimento a brasileiros de destaque. “Nada mais oportuno, portanto, a proposição de que o ano de 2010 seja dedicado à Rachel de Queiroz, em homenagem ao centenário de nascimento da escritora como uma manifestação pública de reconhecimento pela sua singular contribuição para a literatura brasileira”, ressalta o Senador.
Saiba mais sobre a vida de Rachel de Queiroz
Nascida em Fortaleza, em 17 de novembro de 1910, filha de Daniel de Queiroz e de Clotilde Franklin de Queiroz, Rachel descendia, pelo lado materno, da estirpe dos Alencar (sua bisavó materna, "dona Miliquinha”, era prima de José de Alencar, autor de "O Guarani") e, pelo lado paterno, dos Queiroz, família de raízes profundamente lançadas em Quixadá, onde residiam e seu pai era Juiz de Direito.
Em 1917, em razão da forte seca de 1915, sua família transferiu-se
para o Rio de Janeiro. Esse fato marcou sua vida de tal forma que veio a servir de inspiração para a criação de “O Quinze”, seu livro de estréia. Com O Quinze, Rachel alcançou lugar de destaque na literatura brasileira. Acabou tornando-se a primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras, em 1977, ocupando a cadeira de número 5.
De volta ao Ceará, em 1925, formou-se professora aos 15 anos de
idade. Já em 1927, inicia sua carreira de escritora de forma inusitada, com o pseudônimo de “Rita de Queiroz”, ao redigir uma carta ao jornal “O Ceará”, na qual ironizava o concurso “Rainha dos Estudantes”.
Com vinte anos apenas, projetava-se na vida literária do país, agitando a bandeira do romance de fundo social, profundamente realista
na sua dramática exposição da luta secular de um povo contra a miséria
e a seca. Augusto Frederico Schmidt, Graça Aranha, Agripino Grieco e Gastão Gruls foram os principais críticos que avaliaram sua obra. A consagração veio com o Prêmio da Fundação Graça Aranha.
Em 1932, publicou um novo romance, intitulado “João Miguel”, e em 1937, retornou com “Caminho de pedras”. Dois anos depois, conquistou o prêmio da Sociedade Felipe de Oliveira com o romance “As Três Marias”. Em 1950, publicou em folhetins, na revista O Cruzeiro, o romance “O galo de ouro”.
Rachel foi autora de mais de duas mil crônicas, compiladas nos seguintes livros: “A donzela e a moura torta”, “100 Crônicas escolhidas”, “O brasileiro perplexo” e “O caçador de tatu”. No Rio, onde residia desde
1939, colaborou no Diário de Notícias, em O Cruzeiro e em O Jornal. Também foi autora de duas peças de teatro: “Lampião”, criada em 1953, e “A Beata Maria do Egito”, de 1958, laureada com o prêmio de teatro do Instituto Nacional do Livro, além de “O padrezinho santo”, peça que escreveu para a televisão, inédita em livro. No campo da literatura infantil, escreveu o livro “O menino mágico”, a pedido de Lúcia Benedetti, inspirado nas histórias que inventava para os netos. Dentre as atividades de Rachel, destaca-se também a de tradutora, com cerca de quarenta volumes traduzidos para o português.
Rachel fez parte do Conselho Federal de Cultura, desde a sua fundação, em 1967, até sua extinção, em 1989. Participou da 21ª Sessão da Assembléia Geral da ONU, em 1966, onde serviu como delegada do Brasil, trabalhando especialmente na Comissão dos Direitos do Homem. Em 1988, iniciou sua colaboração semanal no jornal O Estado de S. Paulo e no Diário de Pernambuco.
Entre os muitos prêmios que recebeu, cabe destaque: em 1980, foi condecorada com o Prêmio Nacional de Literatura de Brasília; recebeu também o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal do Ceará, em 1981; a Medalha Mascarenhas de Morais, em solenidade realizada no Clube Militar (1983); a Medalha Rio Branco, do Itamarati (1985); a Medalha do Mérito Militar, no grau de Grande Comendador (1986); a Medalha da Inconfidência, do Governo de Minas Gerais (1989); O Prêmio Luís de Camões (1993); o Prêmio Moinho Santista, na categoria de romance (1996); o Diploma de Honra ao Mérito do Rotary Clube do Rio de Janeiro (1996); o título de Doutora Honoris Causa, pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (2000). Ainda em 2000, foi eleita para o elenco dos "20 Brasileiros empreendedores do Século XX", em pesquisa realizada pela PPE (Personalidades Patrióticas Empreendedoras).