A sanção, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da lei que tornou obrigatória e gratuita a realização do teste do ouvidinho (exame de Emissões Otoacústicas Evocadas) em todos os hospitais e maternidades do País – através dos Sistema Único de Saúde (SUS) – nas crianças nascidas em suas dependências.
Embora a iniciativa tenha repercutido nos meios especializados, a opinião pública, de um modo geral, não teve a devida percepção da importância social da iniciativa para uma população que tem cerca de 12% de suas crianças, em idade escolar apresentando algum grau de perda auditiva, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).
A mesma OMS estima que no Brasil existam cerca de 15 milhões de pessoas com algum tipo de perda auditiva. O próprio Censo de 2000, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que 3,3% da população respondeu ter algum problema auditivo.
Se o problema auditivo é detectado até os seis meses de idade e a criança receber tratamento adequado, ela terá o mesmo desenvolvimento de fala de alguém que escuta normalmente; caso não seja detectado nesse período, torna-se mais complicado enfrentar a deficiência, e essas crianças apresentarão distúrbio da fala e da linguagem e precisarão ser atendidas por uma equipe multidisciplinar, que envolve desde fonoaudiólogos até pediatras e neurologistas.
Infelizmente, pelos dados do Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), órgão ligado ao Ministério da Educação, a média de idade com que os pais descobrem problemas auditivos em crianças é, em geral, de três a quatro anos. Nessa idade, a criança já está na escola e não tem o mesmo desenvolvimento dos outros, levando muitos pais a imaginar ser ela portadora de algum problema mental.
Pela nova lei (aliás de autoria de um cearense, o senador Inácio Arruda, quando ainda era deputado federal) todos os hospitais e maternidades do País realizarão o teste, gratuitamente, através dos SUS, até 24 horas após o nascimento, nas crianças nascidas em suas dependências.
O exame é rápido e indolor e feito por meio de um estímulo acústico na orelha do bebê. Se houver resposta ao estímulo, a audição do bebê em 90% dos casos é normal. A falta de resposta implica numa intervenção imediata para sanar o problema. Ou seja, um simples teste de três minutos vai garantir uma vida normal para uma criança que, sem ele, estaria condenada a passar o resto da existência surdo, ou com graves problemas de audição.
Trata-se, assim, de uma conquista do sistema público de saúde brasileiro com marcante repercussão na vida de tantas pessoas. É necessário aproveitar o momento do debate eleitoral para exigir dos candidatos outras conquistas de teor tão, ou mais, importante para a qualidade de vida
dos brasileiros.