O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) realiza estudo que vai identificar o tamanho real da indústria naval no Brasil. O banco acredita que o setor naval nacional tem todas as condições de crescer e competir com os concorrentes internacionais.
Segundo o gerente do Departamento de Gás e Petróleo e Cadeia Produtiva do BNDES, Luiz Marcelo Martins Almeida, a instituição quer evitar que se repita o desastre registrado nas décadas de 70 e 80, quando a indústria naval chegou a contratar 40 mil empregados que, de uma hora para outra, foram reduzidos a zero.
Almeida representa o BNDES na 7ª Feira e Conferência da Indústria Naval e Offshore (Navalshore), que será aberta hoje (), no Rio. Até julho deste ano, haviam sido desembolsados pelo banco, para o setor naval, R$ 517 milhões, com recursos do Fundo de Marinha Mercante. A expectativa, entretanto, é de que o valor liberado até dezembro atinja R$ 1,8 bilhão.
Nos anos 70, o Brasil chegou a ser o segundo maior fabricante de navios, depois do Japão. Hoje, a Coreia assumiu a liderança mundial. “O que nos preocupa é que a gente vê muitos anúncios de estaleiros em todos os lugares do país. Na verdade, o que a gente quer saber é o número correto, para que essa indústria seja sustentável a longo prazo”. O banco pretende evitar que a indústria naval, que emprega hoje cerca de 50 mil pessoas diretamente, venha a quebrar de novo. A previsão é de que o número de empregos diretos no setor chegue a 70 mil nos próximos três anos.
Segundo Luiz Marcelo Almeida, a produção de petróleo poderá ter efeitos sobre a construção naval. As projeções indicam que a produção, hoje em torno de 2 milhões de barris/dia, chegará em 2020 a 4 milhões de barris. Se até lá ocorrer uma demanda muito menor, haverá excesso de capacidade no Brasil “e os próprios estaleiros, que vão ficar com menos encomendas e capacidade ociosa, vão começar a competir por um mercado de poucas encomendas”. O resultado, avaliou, será uma concorrência predatória, com redução de preços e margens. “E os estaleiros vão começar a quebrar”.
Como a carteira de encomendas é muito grande, esse cenário ainda não está sendo observado no mercado internacional. Antes da crise financeira de 2008, a indústria naval mundial estava passando por um boom (explosão), pressionada pela demanda ambiental, que obriga, principalmente os navios petroleiros, a terem casco duplo para evitar que o petróleo vaze no mar em um eventual acidente. Como o Brasil tinha espaço sobrando, havia possibilidade de que ele “furasse a fila”, disse o gerente. Ele comentou que no período pós-crise, a fila diminuiu, mas que ainda existe bastante encomenda lá fora.
Para Almeida, o Brasil, nos próximos dez anos, pode aproveitar essa “janela de oportunidades”. Para isso, contudo, o setor naval tem que avançar em termos de tecnologia de processos, engenharia de projetos e produção. Segundo ele, é preciso ter melhores práticas de construção naval, mais econômicas, com tecnologias mais avançadas, além de parques fabris mais modernos e maiores.
“Enquanto um estaleiro de grande porte da Coreia, líder mundial, faz 100 navios por ano, o Brasil inteiro faz cerca de 20% desse número. Então, a gente precisa de grandes estaleiros, tecnologia avançada, investimento em engenharia de projetos, engenharia de navios. A gente acha que é importante o Brasil ter domínio sobre essa tecnologia”. A formação de mão de obra especializada também merece destaque.
O representante do BNDES reiterou que o ideal é que o Brasil não tenha excesso de capacidade. “Eu acho que o Brasil tem espaço para novos estaleiros e modernizações, mas tudo deve ser muito bem calculado e pensado”. Trata-se de uma indústria cíclica, que deve ser competitiva, evitando repetir os erros do passado e lembrando que os investimentos são de longa maturação.
Ele concordou que o setor deve construir navios para atender, em um primeiro momento, à demanda interna e, depois de uma “curva de aprendizado”, partir para suprir o mercado exterior. “E até exportar. Por que não?”, indagou, referindo-se às descobertas recentes de petróleo na África, que poderão gerar novas parcerias para o Brasil.