O Ceará conta cada vez mais histórias de melhoria da qualidade de vida e de recuperação de pacientes com doenças crônicas. No primeiro trimestre de 2010, aumentou em mais de 28% a quantidade de transplantes de órgãos realizados no Estado, se comparado ao mesmo período de 2009. Relatório da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), também com dados de janeiro a março deste ano, situa o Ceará como o segundo estado com a maior taxa de doação no País, atrás apenas de São Paulo.
A taxa é calculada de acordo com a quantidade de doadores por milhão de pessoas. No início de 2010, ela foi de 19,1 no Ceará. A coordenadora da Central de Transplantes do Estado, ligada à Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), Eliana Barbosa, acredita que a dedicação das equipes, sempre à espera de um novo procedimento, fomenta os bons resultados. “Nossas equipes são pequenas, mas são guerreiras, para não desperdiçarmos órgãos diante da nossa fila de espera”, comenta. Até ontem, a Central contabilizava 384 cirurgias este ano. Ainda assim, 1.219 pessoas aguardam na fila.
O mais recente relatório da ABTO ainda aponta que o Ceará é o estado que mais consegue tornar os doadores “efetivos”. Sim, porque mesmo que os médicos identifiquem doadores em potencial, vítimas de morte encefálica, nem sempre o caso é notificado a tempo ou a família permite a doação. As equipes cearenses conseguiram nos primeiros três meses do ano efetivar 47% dos doadores. São Paulo, a maior taxa de doação do País, conseguiu 36,3%. Eliana Barbosa credita a efetivação ao bom preparo das comissões intra-hospitalares e da Central de Transplantes no momento de conversar com as famílias dos doadores. “A doação de órgão pode levar a um conforto nesse momento para a família”, reforça.
Acompanhamento
Para crescer ainda mais nesse índice, a coordenadora indica que é preciso melhorar o acompanhamento dos doadores até a hora do transplante e o diagnóstico de morte encefálica. Às vezes, enquanto a equipe se prepara para fazer a captação dos órgãos, o doador não recebe os cuidados necessários e sofre alterações, como a pressão, que comprometem o transplante.
Apesar disso, uma mudança de postura na avaliação dos pacientes que podem ser doadores contribui para o aumento das cirurgias. Mais recentemente, as equipes médicas passaram a aproveitar também os órgãos de doadores mais velhos e com algumas alterações. “Nossas equipes têm uma maior liberação dos critérios, pela experiência que já têm. Aceitam função renal um pouco alterada, pacientes hipertensos, diabéticos, numa faixa etária maior. Claro que é feito todo um estudo laboratorial desse órgão. Há pouco tempo era muito restrito a pacientes jovens, sem alterações”, explica Eliana.
SAIBA MAIS
As equipes de transplante também aumentaram no Ceará. Atualmente, o Estado espera a autorização para uma nova equipe para a Central de Transplantes, especializada em pulmão.
Mais hospitais também têm conseguido autorização do Ministério da Saúde para realizar transplantes. O Hospital Geral de Fortaleza (HGF), por exemplo, começou a receber cirurgias de transplante de pâncreas e fígado em novembro do ano passado. Até abril de 2010, isso representou 12 cirurgias a mais. Já eram feitos procedimentos de rins e córneas.
Na opinião de Eliana Barbosa, muitas famílias ainda decidem por não doar os órgãos dos parentes por não compreenderem que a morte encefálica equivale à morte.
“A gente tem que difundir para a sociedade que não só a parada do coração define a morte, mas também a parada do cérebro define a morte do indivíduo, porque é o cérebro que comanda os outros órgãos, inclusive o coração”, reforça.
Transplantes no Ceará
De janeiro a março
2009: 181 transplantes
2010: 232 transplantes
Em 2010, até ontem 384 transplantes
107 de rins
192 de córneas
10 de coração
55 de fígado
7 de medula
Três de pâncreas
Três de válvulas cardíacas
Sete de esclera do olho (branco do olho)
Na fila de espera
1.219 pessoas
723 à espera de córnea
258 de rins
Dois de coração
197 de fígado
Dois de pâncreas
37 de medula óssea