O ex-presidente cubano Fidel Castro reapareceu três vezes em público na última semana para continuar participando "da política" e continuar com "seu espírito de luta" que sua doença não esgotou, opinou um analista local.
"Sua doença grave e seu estado entre a vida e a morte não foi suficiente para esgotar seu espírito", afirmou à Ansa um analista político de uma revista nacional que agora está aposentado.
Fidel, que completará em agosto 84 anos, ficou gravemente doente no fim de julho de 2006 de um mal intestinal e passou por um longo processo de recuperação que incluiu algumas intervenções cirúrgicas.
"Eu segui passo a passo a vida de Fidel. E qualquer um que faça isso sabe que o pior mal [a ele] não seria a morte, mas sim ficar distante, sem poder dar suas opiniões", disse o entrevistado.
O analista citou um artigo escrito há anos pelo prêmio Nobel de Literatura Gabriel García Márquez sobre Fidel, que é seu amigo pessoal. "Ninguém pode ser mais obsessivo quando se propõe chegar a fundo de alguma coisa. Não há um projeto colossal ou milimétrico em que ele não se empenhe com uma paixão encarniçada. E, em especial, ainda tem que enfrentar a adversidade", sublinhava o escritor colombiano em seu texto.
Para o entrevistado, isso é "precisamente" o que está acontecendo agora com o "Comandante em Chefe". "Ou seja, ele novamente briga contra a adversidade".
Fidel, durante as últimas semanas, dedicou ao Irã os comentários que costuma publicar na imprensa local. Neles, sustenta que o país está sob hostilidade dos Estados Unidos e Israel, o que pode levar "a uma rápida guerra universal e catastrófica".
Em uma apresentação pouco comum no programa da televisão cubana La Mesa Redonda, pode-se ver Fidel recuperado, loquaz e, em alguns momentos, enérgico quando analisou que "a única saída" para essa situação será "uma guerra com armas nucleares" que mudará inclusive a América Latina, defendeu.
O líder cubano retomou o assunto na terça-feira, quando ao meio-dia se reuniu com especialistas do Centro de Investigações de Economia Mundial, instituição com sede em Havana, quando entregou aos convidados um comunicado dirigido "aos economistas". "Assim que se apagar o fogo nuclear, que necessariamente será breve, será possível conversar sobre a crise pós-bélica que virá de imediato", escreveu. "Tudo parecerá pura fantasia, como foi por puro milagre que Cuba tenha escapado do ataque nuclear em outubro de 1962", escreveu, comparando o momento atual com a "crise dos foguetes", quando o mundo se viu à beira de uma guerra nuclear entre os Estados Unidos e a União Soviética.
Após esta guerra, "não se poderá falar de capitalismo e socialismo. Somente será aberta uma etapa de administração dos bens e serviços disponíveis nesta parte do continente", estimou.
"Sei que alguns companheiros se preocupam seriamente que eu arrisque minha credibilidade ao afirmar algo tão importante como a de que ocorrerá um conflito que inevitavelmente será de caráter nuclear", disse, alegando que "para mim, o mais importante é que nosso povo está bem informado dos graves perigos que nos ameaçam, e não minha credibilidade pessoal".
O especialista consultado rechaçou os argumentos que as "aparições" do "comandante" nos últimos dias estejam relacionadas com "uma necessidade" oficial de desviar a atenção sobre a liberação de 52 presos anunciada no último dia 7 de julho, quando Fidel assistiu à celebração do aniversário de fundação de outra instituição científica em Havana, já que esta foi a primeira aparição em um ato público desde que ficou doente.
"Ele é suficientemente sábio para saber que um assunto não \’tapa\’ o outro", comentou.