Um estudo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) comprovou o que grande parte dos usuários de transportes aéreos já sabe: os aeroportos brasileiros não estão dando conta da demanda pelos serviços de aviação civil.
A grande novidade é que a previsão para os próximos anos é que a situação seja ainda mais agravada. O estudo indica que o mercado doméstico de transporte aéreo aumentará em pelo menos três vezes nas próximas duas décadas, caso o Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) cresça num ritmo de 3,5% ao ano.
“Quando a solicitação de pousos e decolagens é maior do que a capacidade máxima de operação dos aeroportos, a solução é deslocar o voo para outros aeroportos ou para outros horários”, disse nesta segunda-feira () o coordenador de Infraestrutura Econômica do Ipea, Carlos Campos, ao lançar o estudo Panorama e Perspectivas para o Transporte Aéreo no Brasil e no Mundo.
O estudo, que faz parte da série Eixos do Desenvolvimento Brasileiro, aponta o Brasil como o país de maior potencial de desenvolvimento no setor de transporte aéreo entre os emergentes. Apesar de a América Latina ter uma pequena expressão neste mercado, a região é a que tem registrado as maiores taxas de crescimento nesse tipo de transporte, explica Campos.
“Os maiores aeroportos já estão operando no limite. Parte disso se deve aos preços mais acessíveis e ao crescimento da economia brasileira. Há também a influência da complexidade industrial, que está promovendo um crescimento recorde do transporte de mercadorias, tanto no âmbito interno como externo”, disse o pesquisador.
Consultor do Ipea para a pesquisa, Josef Barat afirma que 97% de toda a movimentação de passageiros e cargas passa necessariamente pelos 67 aeroportos administrados pela Infraero. “Temos de discutir o futuro dessa empresa. Um fator complicador é o de que não há contrato de concessão entre ela e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). E por a empresa não se caracterizar como uma concessionária, a Infraero acaba exercendo o papel de reguladora dela mesma”, argumenta.
Segundo o estudo, nenhum dos dez aeroportos pesquisados tem capacidade para dar conta dos pedidos de pousos e decolagens nos horários de pico. Todos eles estão localizados em cidades que provavelmente sediarão jogos da Copa do Mundo de 2014.
“Veja a situação em São Paulo. Guarulhos, por exemplo, tem capacidade máxima de fazer 53 operações por hora. No horário de pico a demanda é de 65 pedidos de pousos e decolagens. Em Congonhas a capacidade é de 24, enquanto a demanda é de 34. O aeroporto de Brasília tem capacidade para operar 36 voos por hora, mas possui uma demanda [em horário de pico] de 45 pedidos”, disse.
Em Manaus, a relação tráfego real e capacidade operativa é de 17 para nove. Uma diferença que chega a quase 100%. No aeroporto de Porto Alegre essa relação fica em 14 (capacidade por hora) para 20 (número de solicitações de pousos e decolagens).
Em Curitiba (PR), a capacidade operativa é de 14 voos por hora, e a demanda durante o horário de pico é de 18. Em Natal são feitos oito pedidos para uma capacidade de sete pousos e decolagens por hora.
No Aeroporto Santos Dummont (RJ), são registrados nos horários de pico 18 solicitações para uma capacidade de 15 voos por hora.
“Claro que se não forem feitos investimentos adequados o país corre risco de não dar conta e enfrentar um apagão”, avalia Barat. “Os aeroportos deveriam se preparar para receber mais passageiros e aviões mais modernos com uma antecedência de 40 anos”, acrescenta.
Ele aponta como fatores restritivos à expansão do sistema aéreo brasileiro os gargalos de infraestruturas aeroportuária e aeronáutica, além da escassez de recursos humanos qualificados em diversos segmentos, e a elevada carga tributária do país. “Os aeroportos com maior crescimento de demanda não recebem vantagens de investimentos na mesma proporção.”