Durante a reunião de abertura da conferência de revisão do Tratado de Não Proliferação Nuclear, realizada na sede das Nações Unidas, em Nova York, nesta segunda-feira (3), o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, revelou ao mundo que o país possui 5.113 ogivas nucleares ativas e outras milhares de armas nucleares desativadas.
É a primeira vez que o total geral é revelado. De acordo com dados divulgados pelo Pentágono, o arsenal americano foi reduzido em 84%, de um total de 31.225 armas nucleares que o país possuía em 1967, entretanto, o número não inclui as armas nucleares desativadas, que aguardam desmontagem, estimadas em cerca de 4.600, de acordo com informações da Federação de Cientistas Americanos.
O diplomata filipino Libran N. Cabactulan, disse que o principal objetivo de vários membros é pressionar as potências nucleares do TNP — como Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França e China — a promoverem o desarmamento de fato e de forma mais rápida.
Duas décadas após o final da Guerra Fria, os Estados Unidos ainda preservam milhares de armas nucleares. "Acho que os países que estão mais preocupados com o desarmamento nuclear vão ficar mais focados no número que permanece, em vez da redução em si", argumentou George Perkovich, diretor do Programa de Política Nuclear do Fundo Carnegie para a Paz Internacional.
Mais pressão
Falando nesta segunda-feira na ONU, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, usou a tribuna da conferência para atacar mais uma vez o programa de energia nuclear iraniano, exagerando que a ambição nuclear do país do Oriente Médio coloca o mundo em risco. Hillary voltou a repetir que deseja infligir ao Irã uma dura pena pelo país não se dobrar às exigências de seu governo.
Hillary pretende fazer com que o Tratado torne-se "mais rígido" em relação aos países que não cumprirem as regras, evitando o uso da diplomacia e da negociação.
Mais cedo, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, repudiou mais uma vez as suposições de que seu país está desenvolvendo programa nuclear com fins militares e disse que as nações que ameaçam usar armas atômicas deveriam ser punidas, referindo-se à revisão da doutrina nuclear americana, revelada a algumas semanas.
Ahmadinejad destacou também as violações ao tratado cometidas pelos Estados Unidos realizadas e o papel dúbio da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e de seu diretor geral. O presidente iraniano também afirmou que os EUA consolidaram sua condição de potência mundial no pós-guerra, em grande medida pelo uso e posse de armas nucleares.
Para Ahmadinejad, a AIEA e seu diretor usam um peso e duas medidas para tratar do tema nuclear, questionando o fato de a AIEA nunca ter realizado um relatório detalhado sobre as instalações nucleares dos EUA e tampouco não estabelecer um plano claro de desarmamento desse país.
Completa eliminação
Um dos últimos a falar nesta segunda-feira foi o ministro das Relações Externas do Brasil, o chanceler Celso Amorim, que reafirmou a postura do Brasil pela completa eliminação de todos os arsenais nucleares como melhor forma de acabar com a proliferação de armas nucleares.
O chanceler reafirmou mais uma vez o caráter injusto e desigual do Tratado, por este induzir uma diferença entre as nações. O ministro brasileiro defendeu a retomada dos 13 pontos aprovados na Conferência de revisão do ano 2000, como um caminho para a implementação equilibrada do tratado.
Amorim afirmou que atingir o desarmamento "é caro, complexo e custoso, mas acima de tudo e uma definição política que deve ser encarada pelas grandes potencias".
Sem fazer menção ao Irã, o chanceler brasileiro disse também que "a nenhum país deve ser negado o direito de atividades nucleares pacíficas, desde que obedeça aos requisitos do tratado e da AIEA. As preocupações legítimas com a não proliferação não devem tolher o exercício do direito de atividades pacíficas".
Vozes do sul
Para Rubens Diniz, representante do Centro Brasileiro de Solidariedade e Luta pela Paz (Cebrapaz) no evento, "as vozes do sul foram o destaque do primeiro dia da conferência, defendendo como prioridade o desarmamento e o direito inalienável de todos os países de desenvolverem tecnologia nuclear para fins pacíficos".
"Fica evidente o papel desestabilizador de Israel no Oriente Médio e o discurso ambíguo dos EUA, que falam em desarmamento mas mantêm armas nucleares em várias bases militares ao redor do mundo".
A Conferência de Revisão do TNP começou nesta segunda-feira e vai até o dia 28 de maio. Desta segunda até o dia 7 o evento será realizado no plenário das Nações Unidas e contará com a intervenção dos Estados signatários e partes da sociedade civil. Nas duas próximas semanas a conferência funcionara por meio de comissões, que tratarão de temas específicos, encerrando seus trabalhos no dia 28 de maio, com uma declaração final e um plano de ação.