"O Brasil não pode continuar colocando pedra em cima de sua história. Esse rumo está sendo mudado", assim o ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo de Tarso Vannuchi, começou o seu discurso no lançamento do livro "Luta, Substantivo Feminino", ocorrido, ontem, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.
A obra relata depoimentos e registros de mulheres que lutaram contra o regime de ditadura militar imposto no País após o golpe de 1964. Além do registro de vida e morte de 45 mulheres brasileiras que se colocaram contra esse momento da história do Brasil, o livro inclui o testemunho de 27 sobreviventes, que narram, com impressionante coragem, as brutalidades das quais foram alvo.
Perseguidas
Entre as perseguidas, mortas e desaparecidas durante o regime militar estão as cearenses Jana Barroso (morta), Maria do Socorro Diógenes e Lylia Guedes, as duas últimas, vivas.
O lançamento contou com a presença de representantes de vários segmentos, como políticos, a exemplo do senador Inácio Arruda (PCdoB); René Barreira, da Secretaria da Cultura do Estado; e integrantes de associações e entidades de luta, como o Movimento pela Anistia, representado por Maria Luíza Fontenele; entre outros.
"É muito importante voltar ao Ceará para mais um importante momento. Aqui, recentemente, estivemos pelo mesmo capítulo, devolver aos cearenses, principalmente sua família, o corpo do estudante Bergson Gurjão. Agora estamos resgatando a história de mulheres guerreiras que sofreram, umas resistiram e outras morreram, lutando por um ideal político. Entre elas também estão cearenses, mostrando valor de seu povo", disse Paulo Vannuchi.
O representante da Secretaria da Cultura do Estado saudou a iniciativa do ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos de trazer para Fortaleza obra tão importante. Ele aproveitou o ensejo para sugerir que o livro mereceria uma edição regionalizada. "É interessante ter uma obra dessa como testemunho da nossa história".
O que eles pensam
Qual é a importância da obra?
A mulher desempenhou papel importante na resistência à ditadura militar. Ela deixou o apego do lar, família e foi às ruas para fazer valer seus direitos de cidadã. No entanto, acabaram sofrendo tortura. Umas morreram, outras desapareceram e a minoria sobreviveu e está ajudando a fazer história.
Inácio Arruda
Senador (PC do B)
Nossa trajetória é de resistência, e esta obra resgata o que sofremos no regime de 1964. As gerações precisam saber valorizar as lutas das mulheres que contribuíram para a democratização deste País. Aqui no Ceará, companheiras foram presas e sofreram todo tipo de tortura.
Maria Luíza Fontenele
Ex-prefeita de Fortaleza
Não se conhece um povo sem saber sua história. "Luta, Substantivo Feminino", relata bem depoimentos importantes de quem viveu horrores no auge de uma ditadura sangrenta e desumana. Que este documento sirva também para novas reflexões.
Lula Morais
Deputado Estadual (PC do B)
É um livro que marca nossa própria vida. Quem experimentou momentos como os vividos na ditadura, sabe bem valorizar esta obra, que de uma certa maneira resgata nossa história. Como presa política e exilada, sinto-me emocionada por
ter vivido esta história.
Teresa Cavalcante
Movimento das mulheres presas políticas