O presidente Luiz Inácio Lula da Silva advertiu nesta quarta-feira (19) para um retrocesso na questão nuclear iraniana se o Conselho de Segurança da ONU não tiver disposição para negociar a respeito depois do acordo tripartite de domingo sobre o enriquecimento de urânio.
"Agora depende do Conselho de Segurança da ONU sentar com disposição de negociar, porque se eles se sentarem sem querer negociar, tudo vai voltar atrás", afirmou Lula durante uma conferência sobre a economia brasileira em Madri.
O presidente fez estas declarações um dia depois que uma resolução, promovida pelos Estados Unidos, foi submetida ao Conselho de Segurança com a previsão de reforço às sanções contra o Irã, apesar do plano turco-brasileiro apresentado na segunda-feira para permitir o enriquecimento de urânio iraniano no exterior.
O Brasil anunciou que não participará no debate sobre essas sanções porque existe uma nova situação, segundo a representante do Brasil ante a ONU, María Luiza Ribeiro Viotti.
Lula manifestou, além disso, que o Brasil e a Turquia, no acordo ao qual chegaram com o Irã, fizeram exatamente o que os Estados Unidos queriam fazer há cinco ou seis meses.
"Qual era o grande problema do Irã? Que ninguém podia sentar para negociar. O que queríamos era convencer o Irã de que deve assumir o compromisso com a Agência (Internacional de Energia Atômica, AIEA) e deveria negociar, deveria depositar seu urânio na Turquia: isso é o que foi acertado", explicou.
Na terça-feira, o chanceler brasileiro Celso Amorim declarou que o acordo tripartite "cria uma oportunidade para uma solução negociada e pacífica" para a questão iraniana.
O acordo assinado na segunda-feira em Teerã foi recebido com frieza por parte da comunidade internacional, que acredita que o Irã quer utilizar a energia nuclear para conseguir armas atômicas e nã para fns civis, como asseguram suas autoridades.
Hillary fala sobre sanções ao Irã (em inglês)
Por outro lado, Lula voltou a defender a reforma da ONU e alertou que "se a ONU continuar assim, vamos ter um sério problema", por isso defendeu "uma ONU fortalecida nos próximos 10 ou 15 anos".
"As Nações Unidas representam o mundo político de 1945, mas não o mundo político de 2010: tem que mudar, precisa levar em conta a existência de (…) outros continentes, há mais de 17 anos que estamos lutando por isso". Neste contexto, "o Brasil quer ser um ator global porque não concordamos com a atual governança mundial", argumentou.
"São necessários mais atores, mais negociações e mais disposição para dialogar", acrescentou.
O presidente Lula conclui nesta quarta-feira uma visita a Madri, onde participou na VI Cúpula entre a União Europeia (UE), a América Latina e o Caribe na terça-feira e na cúpula UE-Mercosul na segunda-feira, na qual as duas partes anunciaram que continuarão a negociacão de um acordo de liberalização do comércio.