A Marinha de Israel atacou nesta segunda-feira () uma frota de seis embarcações com ativistas pró-palestinos que tentavam furar o bloqueio à faixa de Gaza e entregar suprimentos à região. A iniciativa dos ativistas tinha apoio da Turquia, país que, nesta segunda-feira, pediu uma reunião emergencial do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), disse um autoridade do Ministério do Exterior da Turquia. A Turquia, país predominantemente muçulmano, é membro temporário do Conselho de Segurança da ONU.
O governo da Turquia também anunciou que chamou seu embaixador em Israel para consultas em protesto ao ataque israelense. O vice-primeiro-ministro turco, Bülent Arinç, acrescentou que a Turquia suspendeu seus exercícios militares conjuntos com Israel, país com o qual havia criado uma forte relação econômica e militar.
Segundo a TV israelense, no mínimo 19 pessoas teriam morrido na ação. Em entrevista à rádio do Exército, o ministro da Indústria e Comércio de Israel, Binyamin Ben-Eliezer, disse lamentar as mortes.
A exata localização das embarcações é incerta. Israel teria advertido as embarcações para que não invadissem suas águas territoriais.
Mas, segundo os ativistas, os barcos estavam em águas internacionais, a mais de 60 quilômetros da costa.
Os barcos, organizados pela ONG Free Gaza, levavam 750 ativistas e cerca de 10 mil toneladas de suprimentos para a faixa de Gaza.
Imagens da TV turca feitas a bordo do barco turco que liderava a frota mostram soldados israelenses lutando para controlar os passageiros.
As imagens mostram algumas pessoas, aparentemente feridas, deitadas no chão. O som de tiros pode ser ouvido.
A TV árabe Al-Jazeera relatou, da mesma embarcação, que as forças da Marinha israelense haviam disparado e abordado o barco, ferindo o capitão.
A transmissão das imagens pela Al-Jazeera foi encerrada com uma voz gritando em hebraico: "Todo mundo cale a boca!".
A frota de seis embarcações havia deixado as águas internacionais próximo à costa do Chipre no domingo () e pretendia chegar a Gaza nesta segunda-feira ()
Israel havia dito que bloquearia a passagem dos barcos e classificou a campanha de "uma provocação com o intuito de deslegitimar Israel".
O porta-voz do Exército israelense, general Avi Benayahu, afirmou que o ataque contra a frota humanitária pró-palestina aconteceu em águas internacionais.
"O comando agiu em alto mar entre 4h30 e 5h, horário local, a uma distância de 70 a 80 milhas ( a 150 km) de nossa costa", afirmou o general à rádio pública.
Segundo os termos dos acordos de paz de Oslo (), Israel mantém o controle das águas territoriais diante da faixa de Gaza em uma distância de 20 milhas ( km).
Repercussão
As mortes dos ativistas envolvidos na expedição de ajuda aos palestinos causou grande repercussão na comunidade internacional. O Ministério de Assuntos Exteriores da Turquia reagiu duramente ao ataque e, em comunicado, afirma que o governo israelense terá que enfrentar as consequências por seu comportamento.
A Turquia também estabeleceu um centro de crise para acompanhar o desenvolvimento dos eventos.
O embaixador israelense em Ancara, Gaby Levy, foi convocado ao citado Ministério para dar explicações e receber o protesto do governo turco.
O comunicado diz que o Exército israelense usou a força contra um grupo de ajuda humanitária, que inclui "idosos, mulheres e crianças" que viajam nos navios, o que considerou "inaceitável".
"Tomando como alvo civis inocentes, Israel mostrou mais uma vez que não se preocupa com a vida humana, nem com as iniciativas pacíficas. Condenamos fortemente esta prática desumana de Israel", acrescentou a nota.
"Este incidente, que aconteceu em águas internacionais abusando da lei internacional, terá consequências impossíveis de compensar", avisou o Ministério turco.
"Não importa qual seja a razão, esta ação contra civis que atuam com propósito humanitário é impossível de aceitar. Israel terá que enfrentar as consequências de seu comportamento e da violação das leis internacionais", conclui o comunicado.
O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, que se encontra no Chile cancelou sua visita à América Latina e anunciou que fará declarações nas próximas horas.
O Ministério de Assuntos Exteriores da Grécia iniciou um mecanismo de gestão de emergência com um telefone à disposição dos familiares dos gregos que estão na "Frota da Liberdade", pois três dos navios que a compõem procedem deste país.
Yanis Maistros, porta-voz em Atenas da seção grega da iniciativa, declarou que "os cinco navios foram sequestrados"; e que "receberam disparos a partir de lanchas e helicópteros israelenses quando estavam navegando em águas internacionais, próximas ao litoral israelense".
Assim como os gregos, a comunidade europeia também reagiu ao incidente. A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, pediu hoje às autoridades israelenses uma "investigação completa" sobre o ataque à "Frota da Liberdade". A diplomata também destacou por meio de seu porta-voz que a UE continua seriamente preocupada com a situação humanitária em Gaza e destacou que o bloqueio é "inaceitável e politicamente contraproducente".
Confira a repercussão internacional
Segundo Ashton, a comunidade europeia exige a "abertura imediata, incondicional e permanente" das vias de acesso a Gaza para permitir a chegada de ajuda humanitária, bens comerciais e pessoas.
ANP
O presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas, decretou três dias de luto nos territórios palestinos devido ao ataque israelense à "Frota da Liberdade", que se dirigia para a faixa de Gaza, no qual teriam morrido 14 ativistas.
Em comunicado emitido da Cisjordânia, por meio da agência oficial palestina "Wafa", Abbas não anunciou, no entanto, uma interrupção do diálogo indireto de paz que mantém com Israel.
"O que Israel cometeu contra os ativistas da \’Frota da Liberdade\’ é um massacre", disse Abbas.
Seu porta-voz, Nabil Abu Rudeina, qualificou a ação de "crime contra a humanidade, já que foram atacados ativistas que não estavam armados e tentando romper o bloqueio sobre Gaza fornecendo ajuda".
"A agressão israelense terá perigosas consequências na região e no mundo", advertiu Abu Rudeina.
Por sua vez, o primeiro-ministro palestino, Salam Fayyad, leu diante das câmaras um comunicado no qual assegura que "nada pode justificar" o "crime" cometido hoje por Israel.
"Esse crime reflete mais uma vez a falta de respeito de Israel pelas vidas de civis inocentes e pelo direito internacional", acrescentou.
Um dos principais assessores de Abbas, o chefe negociador palestino Saeb Erekat, qualificou o ocorrido de "crime de guerra" que "confirma que Israel age como um Estado acima da lei". Ele pediu uma resposta "rápida e apropriada" da comunidade internacional.
"Eram embarcações civis, que levavam civis e bens civis – remédios, cadeiras de rodas, comida, materiais de construção – para os 1,5 milhão de palestinos fechados por Israel. Muitos pagaram com suas vidas. O que Israel faz em Gaza é horrível, nenhum ser humano esclarecido e decente pode dizer algo diferente", apontou Erekat.
Por sua vez, o chefe de governo em Gaza do movimento islâmico Hamas, Ismail Haniyeh, qualificou o ataque como "brutal" e convocou um Dia da Ira, ou seja, que os palestinos tomem as ruas em protesto pelas mortes.
Ele pediu à "comunidade internacional, principalmente as Nações Unidas, que ajam o mais rápido possível para proteger os navios e os ativistas e pôr fim ao bloqueio" que mantém Israel sobre Gaza há anos com a cooperação do Egito.
Além disso, pediu a Abbas que suspenda "imediatamente" o diálogo entre israelenses e palestinos com mediação dos Estados Unidos.
Representantes da comunidade palestina com cidadania israelense convocaram para amanhã uma manifestação geral.
Protesto
A ação do governo de Israel também foi alvo de protesto na Turquia e centenas de manifestantes turcos se concentraram nesta manhã em frente das delegações diplomáticas de Israel para protestar contra o ataque israelense.
Desde o começo da manhã, várias centenas de pessoas se concentraram em frente ao consulado israelense em Istambul e tentaram entrar nele.
A polícia bloqueou os manifestantes, cujo número aumentava com a passagem das horas. Outros acamparam em frente ao consulado, que fica na região de escritórios de Levent, lendo versículos do Corão e gritando palavras de ordem contra o ataque de Israel.
Em Ancara, um grupo de manifestantes enfurecidos se concentrou em frente à residência do embaixador israelense, Gaby Levi, do qual se espera que vá ao Ministério de Exteriores da Turquia, pois foi chamado para consultas.
Histórico
Israel decretou um bloqueio quase total à entrada de mercadorias na faixa de Gaza desde que o grupo islâmico Hamas tomou à força o controle da região, em junho de 2007.
O Hamas é acusado pelos disparos de milhares de mísseis contra o território israelense na última década.
Israel diz que permite a entrada de 15 mil toneladas de suprimentos de ajuda humanitária a Gaza a cada semana.
Mas a Organização das Nações Unidas diz que isso é menos de um quarto do necessário.