Nos últimos anos a população cearense vem se tornando cada vez mais solidária quando se fala de doações de órgãos. Para se ter uma ideia, segundo dados da Central de Transplantes do Estado do Ceará, em 1999 foram registrados 1,8 doadores para cada milhão de habitantes, e esse número deu um grande salto em 2009, passando para 11,2 doadores. Isso significa um acréscimo de 522% nos últimos 11 anos no Estado.
Mas, as novidades não acabam por aí. Segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), só no primeiro trimestre de 2010, o número de doadores efetivos no Ceará por milhão da população subiu para 19,1. Esse dado classifica o Ceará como o segundo Estado com maior número de doadores do País, perdendo apenas para São Paulo, com 22,6 doadores. Até o fim do ano passado, o Ceará ficava em quinto lugar abaixo de Santa Catarina, São Paulo, Rio Grande do Sul e do Distrito Federal.
Com mais doadores, as possibilidades de realização de transplantes aumentam também. O Ceará vem se destacando, e em 11 anos pode apresentar um acréscimo de 307%, passando de 188 transplantes realizados em 1999, para 767 realizados no ano passado.
Essa evolução colaborou para o fim do sofrimento de milhares de pessoas. A fotógrafa Alana Andrade, 22 anos, descobriu aos 12 que tinha insuficiência renal crônica. Foram anos procurando soluções para a doença e frequentando consultórios médicos. Na época, o tratamento indicado foi a diálise peritoneal. Desde então, foram quatro anos ligada a uma máquina durante 11 horas por dia. "Eu tinha um quarto de hospital dentro de casa, minha vida dependia de uma máquina, não podia viajar nem sair com meus amigos".
Em dezembro de 2005, Alana decidiu entrar na fila por um transplante de rins e, para a surpresa dela e de sua família, em março de 2006, após três meses de espera, ela recebeu uma ligação da Central de Transplantes do Ceará informando sobre um doador compatível. "O transplante mudou completamente minha vida, não dependo mais da diálise para sobreviver e posso trabalhar, estudar e viajar para onde quiser", relata.
Segundo a coordenadora da Central de Transplantes do Ceará, Eliana Barbosa, além da solidariedade da população, a descentralização dos serviços de captação de órgãos e tecidos também é apontada como importante no aumento das doações e transplantes.
Conforme ela, há pouco mais de um ano a captação é realizada na região Norte e no Cariri, com o transporte aéreo dos órgãos para a Capital cearense garantido pela Casa Civil do Estado do Ceará.
Ela acrescenta que anteriormente não havia uma comunicação entre a Central de Transplantes e pacientes do Interior do Estado, mas hoje, a captação é realizada tanto na Santa Casa de Misericórdia, em Sobral, tanto no Hospital Santo Antônio, em Barbalha. "A região Norte, vem ganhando um grande destaque no número de doações. Toda semana pelo menos uma doação é efetivada em Sobral", diz.
Para o secretário da saúde, Arruda Bastos, diversos fatores contribuem para o crescimento do número de doações. Ele destaca a sensibilização das famílias cearenses que, com mais informações sobre o processo de doação, estão ficando cada vez mais solidárias. "E aqui a imprensa tem sido uma importante aliada porque é recorrente na abordagem do tema, mobilizando a população para o ato de doar e salvar vidas", afirma.
Ainda segundo o secretário, é importante que a população saiba que não é necessário se cadastrar para ser um doador, basta apenas comunicar para alguém da família sobre o desejo de ajudar e doar. "Não precisa assinar documento, nem ter na cadeira de identidade que é doador, não existe mais esse protocolo, hoje é muito mais fácil. Basta querer", ressalta. Conforme Arruda, a meta de Secretaria da Saúde do Estado é poder chegar aos 1000 transplantes até o fim de 2010.