Colômbia terá segundo turno entre Juan Santos e Antanas Mockus


As eleições presidenciais colombianas terão segundo turno entre o candidato governista Juan Manuel Santos, do Partido de Unidade Nacional, e o oposicionista Antanas Mockus, do Partido Verde.

Com 99% dos votos apurados neste domingo (), o aliado do presidente Alvaro Uribe teve o dobro de sufrágios do rival em uma votação cercada de acusações de fraude, intimidação de eleitores e até mortes.

O candidato governista Juan Manuel Santos obteve 46,58% dos votos, mais que o dobro do oposicionista Antanas Mockus, que obteve 21,47% da preferência dos eleitores. As pesquisas, até as vésperas da eleição, indicavam empate entre os dois.

Germán Vargas Lleras do partido Cambio Radical aparece em terceiro com cerca de 10%, seguido do candidato esquerdista Gustavo Petro, com mais de 9% dos votos.Os partidos tradicionais sairam derrotados no pleito. A candidata do partido Conservador Noemí Sanín ficou por volta de 6%, e o Rafael Pardo, do partido Liberal, teve pouco mais de 4%.

O resultado foi confirmado matematicamente com 98,13% das urnas apuradas. Um candidato deve obter a metade mais um dos votos para chegar à Presidência. Caso contrário, será disputado um segundo turno entre os dois mais votados.

O candidato governista Juan Manuel Santos, é o herdeiro e defensor da controvertida política de Segurança Democrática da administração Uribe. Neste domingo, Santos voltou a usar seu discurso de direita contra o "terrorismo" para angariar votos.
Confrontos armados

Ex-ministro de Defesa do atual governo, Santos disse que pretende ser recordado como o presidente "que deu trabalho aos colombianos".

Já o adversário verde, Mockus, prometeu governar dentro da legalidade e combater a corrupção no país. Ele confirmou ser o preferido dos eleitores mais jovens e o favorito nos grandes centros urbanos.

Pouco antes de votar, na manhã deste domingo, Mockus, disse que os colombianos "lembrarão que pela primeira vez não votou contra e sim a favor" de um projeto.

As eleições presidenciais da Colômbia foram marcadas por confrontos armados na zona rural colombiana entre militantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e soldados do governo que deixaram pelo menos três mortos e "impediram que muitos votassem", segundo observadores do pleito.

Mesmo com a segurança reforçada em todo o país por 340 mil homens, foram registradas 17 ações armadas, de acordo com o Movimento de Observação Eleitoral (MOE) colombiano.

"Esses ataques impediram que muitos eleitores chegassem aos centros de votação", afirmou à BBC Brasil Ariel Ávila, da direção do MOE.

Os confrontos aconteceram nos departamentos (Estados) de Cauca, Antioquia e Caquetá. Um guerrilheiro das Farc teria morrido no sudoeste do país. Nos departamentos de Meta e Bolívar, dois soldados do Exército também teriam caído em enfrentamentos.

O ministro do Interior, Fabio Valencia Cossio, disse ainda que a Polícia Nacional desativou três artefatos explosivos antes da abertura das urnas para o pleito que escolherá o sucessor do atual presidente colombiano, Álvaro Uribe.

Tranquilidade nas cidades

Nas cidades, o pleito transcorreu normalmente. Nos centros de votação em Bogotá, marcados com intenso fluxo de eleitores, era possível ver a polarização criada pelas candidaturas presidenciais e pelo polêmico governo de Álvaro Uribe.

O estudante universitário Sebastián Prieto, de 18 anos, que votou pela primeira vez neste domingo disse preferir Mockus porque o candidato "não pensa em consertar as consequências e sim as causas" dos problemas na Colômbia.

"Uribe fez coisas boas, mas com métodos muito caros para o país", afirmou Prieto à BBC Brasil ao criticar o caso dos chamados "falsos-positivos".

O caso, um dos escândalos que marcou a era Uribe, gira em torno de execuções extrajudiciais de jovens de baixa renda do campo e da cidade, assassinados e em seguida vestidos como guerrilheiros com o objetivo de inflar as estatísticas do Exército no combate aos grupos armados.

\’Guerra\’

A posição do comerciante German Díaz se dirigia à outro extremo. Pouco antes de votar, no centro da capital, na praça Bolívar, Diaz disse apoiar o candidato governista "porque viveu a guerra". A seu ver, o novo presidente deve continuar a política militar de combate às guerrilhas.

"Sei o que é viver no campo e ter que pagar pedágio para guerrilha, paramilitar, Exército, ver a morte de perto", disse Diaz à BBC Brasil.

A poucos metros deste centro de votação, a vendedora ambulante Bertha Gaitán, se queixava da situação do país, enquanto preparava "obleas", uma espécie de bolacha fininha recheada com doce de leite.

" A única coisa que resta aos pobres é trabalhar assim, na rua, sem segurança, sem direito à aposentadoria, nada", disse à BBC Brasil, ao criticar a gestão do presidente Uribe, que deixará o governo após oito anos.

"Uribe se cercou de mafiosos, governou para os ricos e está vendendo o país para os gringos (Estados Unidos)", afirmou a vendedora que até o meio dia não havia decidido se votaria ou não nestas eleições.

Alvo de críticas da esquerda e de organizações sociais, Uribe que se tornou o principal aliado dos Estados Unidos na região terminará seu controvertido mandato com cerca de 68% de popularidade.

Seu sucessor receberá um país mais seguro que há oitos anos, porém com 20 milhões de pobres, em uma população de 44 milhões, com 3,5 milhões de pessoas vítimas de deslocamento forçado em consequência do conflito armado, com 12% de desemprego, um dos mais altos índices da América Latina e com uma crise de credibilidade institucional, segundo analistas entrevistados pela BBC Brasil.