Chico de muitas faces


A noite de lua cheia desse mês de maio foi especial lá na Serra de Maranguape. Na boquinha da noite, seu filho mais ilustre, Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, mais conhecido como Chico Anysio, esteve por lá. Passagem rápida, já que no dia seguinte tinha de estar na Paraíba para apresentar mais um espetáculo. Chegou lento e desceu devagar do carro que logo ficou rodeado de crianças, com papel e caneta na mão para tentar um autógrafo. Está cansado, nosso gênio do humor.

Na noite da terça-feira, 18, teve que ser internado com princípio de infarto "e precisou desentupir três veias", diz André Lucas, o filho e empresário que o acompanha nas viagens quase ininterruptas. "Mas na terça-feira, seguinte, 25, essa semana, já estava gravando novamente", completa J. de Camilis, o Quinzinho, sobrinho de Valter D´ Ávila (seu Baltazar da Rocha), que acompanha Chico há 54 anos. "Todas minhas saudades e tristezas são daqui de Maranguape. Ninguém sabe como fui feliz aqui até os oito anos". E, durante a entrevista rápida, tanto pela concorrência, quanto pela necessidade de não cansá-lo, ele discorre na memória o tempo em que a empresa de ônibus do pai foi destruída em um incêndio, da ida para o Rio de Janeiro de barco, e dos primeiros passos no humor. "O primeiro personagem que criei foi o professor Raimundo, em 1957. Sempre tive facilidade em imitar as pessoas. Com 16 anos tinha um espetáculo montado com 32 personagens que eu apresentava pelas rádios. Ganhava tudo, ganhei tanto que ninguém queria mais que eu concorresse", recorda.

O olhar está cansado, a respiração mais curta, o ombro pouco encurvado, mas a elegância, criatividade, vontade de produzir e charme também estão todos lá. Chico está preparando um novo show "Tudo Eu", onde o desafio será apresentar 12 personagens que "ainda estão na fase de testes, para ver o quem se adapta melhor ao palco". Mas já estão sendo confeccionados perucas e figurinos.

Entre as poucas dezenas que vieram recepcioná-lo no Centro de Arte Popular, que agora exibe duas exposições permanentes com seus personagens, Chico Anysio observa as 15 marionetes confeccionadas pelo artista e curador da mostra, Gandhy Piorski Aires. "Tem o Qualhada, Silva, Alberto Roberto, Profeta, Bento Carneiro, Tim Tones, Pantaleão, Roberval Taylor, Painho, Veio Zuza e Salomé", diz o simpático maranguapense Vilamar, de 15 anos, fazendo as vezes de guia. "Nessa outra sala, temos os originais das caricaturas extraídas do livro "É mentira, Chico?", de diversos artistas e organizado pelo Ziraldo", explica Vilamar.

Enquanto se encaminha para a praça Capistrano de Abreu, uma pequena multidão se esbalda com as apresentações da mostra competitiva do II Festival Nacional de Humor de Maranguape que segue até amanhã, domingo, com oficinas, shows e cortejos. Os humoristas Falcão, João Claúdio Moreno, Marmita, Raimundinha, Augusto Bonequeiro com o boneco Fuleiragem, Saulo Laranjeira, Papudim, Hiran Delmar, além das atrações musicais: Neo Pi Neo, Groovytown e Baby Dolls, e outros artistas, também marcaram presença. Já na Mostra Competitiva participaram Francisco Eliomar, Nana Pinheiro, Francisco Rogério, Oscabritto, Antonio Irapuan, Luan Damasceno, Daniel Felício, Tiquinho, Edmar Valentim, Ed Mai, José Iranildo, Cibalena e Iraldo Show. O resultado da mostra será conhecido na noite de domingo.