Evo Morales condena capitalismo por destruir o planeta


O presidente da Bolívia, Evo Morales, afirmou nesta terça-feira () que o capitalismo é o principal responsável pela destruição do planeta, pois "mercantilizou a terra e o homem". Para se contrapor a esse sistema, ele defendeu um novo modelo econômico que funcione em harmonia com a natureza. Morales fez as declarações durante a inauguração da Cúpula Mundial dos Povos sobre Mudança Climática e Direitos da Mãe Terra, que acontece na Bolívia.

"O capitalismo mercanitilizou tudo: a terra, o genoma humano. É por isso que, enquanto não mudarmos este sistema capitalista (…), seguiremos com o dilema entre continuar com ele, o que significaria a morte, ou empreender uma harmonia com o planeta, defendendo a vida e a humanidade (…) O capitalismo é ponte de assimetrias e da desigualdade neste mundo", disse Evo.

Em um grande ato no Estádio Sebastián Ramírez de Tiquipaya, a 12 quilômetros de Cochabamba, o governante boliviano indicou que "só com igualdade é que se pode viver melhor". Neste sentido, lembrou que " estamos em um mundo no qual 1% da população tem 50% da riqueza do planeta".

Morales leu uma carta às futuras gerações, para alertar que o planeta está doente devido ao capitalismo. No texto, o mandatário assinalou que a Mãe Terra, lastimada, envia avisos, em forma de terremotos, maremotos, tsunamis, ciclones e secas, expondo a necessidade de protegê-la.

Ele chamou a atenção ainda para os emigrantes climáticos, cerca de 50 milhões de pessoas – número que em 2050 poderá se elevar a 200 milhões – que são vítimas dos impactos negativos no meio ambiente. "A encruzilhada definitiva é salvar a Mãe Terra do capitalismo", disse, instando a um grande pacto dos povos. "Se destruímos o capitalismo, a tarefa será cuidar da Mãe Terra com muito amor", reafirmou.

O mandatário assinalou também, em outra parte de seu discurso, que, enquanto não se mude o capitalismo, as medidas que se adotem em defesa da Pachamama (Mãe Terra) terão caráter precário e temporário. Ele destacou que é preciso recuperar costumes e métodos utilizados pelos povos originários para que se possa viver em equilíbrio com a natureza.

"Os países necessitam de uma grande melhoria. Temos que recuperar e revalorizar a vida dos originários como uma verdadeira alternativa para o desenvolvimento do mundo", colocou. "É preciso recuperar a vivência dos antepassados, a experiência sobre a vida (…) Temos que esquecer essa filosofia de que homem estáacima da terra e começar a pensar que o homem tem que submeter-se ao planeta", completou.

Ele disse ainda que "o capitalismo sequestra a Mãe Terra para saquear seus recursos, explorar seus filhos e envenenar seus rios e lagos (…) O capitalismo é o primeiro inimigo do mundo, sintoma da desigualdade. É a destruição da terra. E, como filhos da terra, não podemos deixar de refletir, de nos organizarmos para salvar todo o mundo".

Morales criticou a Cúpula das Nações Unidas em Copenhague (Dinamarca) e o seu resultado, por não ter escutado as reivindicações das organizações sociais e povos originários. "O capitalismo desenvolve armas para acabar com a vida, o que será derrotado pelos povos em defesa da Mãe Terra", agregou. Ele opinou que os países industrializados têm a obrigação de acabar com esse modelo.

Dirigindo-se à ONU, o boliviano defendeu que é necessário que os países membros escutem, mas também respeitem a vontade dos povos, em referência à entrega dos acordos da reunião em Cochabamba aos participantes na próxima cúpula da ONU sobre clima, a se celebrar no balneário mexicano de Cancún, em dezembro próximo.

Morales confirmou a criação de uma organização alternativa dos povos em defesa da natureza, caso o organismo internacional desconheça os acordos da Cúpula dos Povos. O novo agrupamento foi, anteriormenete, chamado de Unidade dos Povos Originários e Operários (UNO).

No ato, oradores que falaram em nome de todos os continentes e de cerca de 130 países, respaldaram a iniciativa da Bolívia de realizar, em 12 de outubro, um referendo mundial sobre meio ambiente e de constituir um Tribunal Internacional de Justiça Climática, no qual seriam julgados governos e empresas que atentem contra a vida no planeta.

Chefes de Estado, representantes de organizações sociais e indígenas de todo o mundo, junto a especialistas em meio ambiente, iniciaram nesta terça o debate para alcançar pontos de consenso com iniciativas que respeitem a vida e o planeta. O chanceler da Bolívia, David Choquehuanca, avaliou que mais de 20 mil pessoas devem participar ads discussões.

A abertura do evento aconteceu na presença de milhares de representantes de diversos países e com os presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, Rafael Correa, do Equador, Fernando Lugo, do Paraguai, e Daniel Ortega, da Nicarágua, além do próprio Evo.

Dois prêmios Nobel da Paz integrarão as atividades: o argentino Adolfo Pérez Esquivel e a guatemalteca Rigoberta Menchú, junto a outras personalidades. O fórum se encerrará na quinta-feira com a celebração do Dia Internacional da Mãe Terra, uma proposta da Bolívia, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2009.