O governo dos Estados Unidos anunciou nesta terça-feira (6) que o país recorrerá às armas nucleares, como fez em 1945 contra Hiroxima e Nagasaki, ao revelar sua nova estratégia sobre o tema.
Na tentativa de contemporizar a advertência, a administração Obama adverte que usará armas atômicas "em circunstâncias especiais", mas deixa aberto o caminho para empregar o armamento quando o assunto tratar de seus interesses vitais e de seus aliados.
O relatório sobre a "nova" doutrina nuclear assinala que o maior e mais imediato perigo contra a Casa Branca é o "terrorismo nuclear", mencionando o espantalho "rede al-Qaida", erguido após os ataques de 11 de setembro de 2001.
Embora tenha anunciado que realizará restrições ao uso de armamento atômico e que renuncia ao desenvolvimento de novas armas nucleares, além de dizer que vai procurar reduzir suas reservas nesse sentido, a doutrina nuclear americana não promete jamais utilizar a arma.
Obama quer se descolar de Bush
Segundo antecipou na segunda-feira Robert Gibbs, porta-voz da Casa Branca, o anúncio da "nova" doutrina nuclear estadunidensa é o primeiro desde 2002, e é a estratégia que Obama pretende usar para marcar a suposta diferença entre sua administração e a de George W. Bush.
A doutrina é revelada há dois dias da assinatura do novo tratado de redução de armas nucleares entre Rússia e Estados Unidos, que os presidentes Barack Obama e Dmitri Medviedev deverão ratificar em Praga, substituindo o tratado anterior, o START 1, de 1991 e que venceu em dezembro do ano passado.
Irã e Coreia do Norte são "atacáveis"
Obama descreve essa nova política como "parte de um esforço mais amplo para obter um mundo livre de armas nucleares". Mas, no mesmo discurso, não arreda pé da posição belicista, prometendo que utilizará bombas nucleares contra Irã ou contra a República Popular Democrática da Coreia, se achar necessário.
"A doutrina nuclear dos Estados Unidos, de fato, não exclui a possibilidade de assestar um golpe atômico contra o Irã e a Coreia do Norte", declarou o chefe do Pentágono, Robert Gates, ao apresentar o documento.
"A doutrina nuclear contém uma séria advertência, dirigida a Irã e Coreia do Norte (…) Estamos fazendo uma exceção a países como Irã e Coreia do Norte, que não acatam os princípios do Tratado de Não Proliferação Nuclear. Por isso admitimos todas as variantes quando se trata de países de tal categoria, o mesmo que ocorrerá com entidades que não são Estados mas são capazes de obter acesso às armas nucleares", disse.
A pompa e circunstância que cercou o anúncio não foi suficiente para encobrir a informação de que os investimentos na modernização das armas será ainda maior em relação ao feito atualmente. Segundo um funcionário do Pentágono, isso propiciaria uma "redução de armas nucleares", a troco de armas tão potentes e cruéis quanto.
A apresentação da nova estratégia nuclear militar acontece uma semana antes da realização, em Washington, da cúpula internacional sobre o tema, com mais de 40 países convidados.