Em visita a Montevidéu nesta semana, a delegação do PCdoB desenvolveu uma ampla e diversificada agenda, que incluiu uma saudação ao novo presidente uruguaio, José Pepe Mujica, empossado na última segunda-feira, dia 1º. Ele esteve com os comunistas brasileiros logo após a posse.
A delegação foi composta por Ricardo Abreu Alemão, secretário de Relações Internacionais do Comitê Central, pelo senador Inácio Arruda (PCdoB-CE), membro do Parlamento do Mercosul, e por Ronaldo Carmona, da Comissão de Relações Internacionais do partido.
Como convidados especiais da Frente Ampla, a delegação do PCdoB congratulou-se com Mujica logo após seu pronunciamento de posse na Praça Independência, num ato com milhares de pessoas concentradas ao longo da Avenida 18 de Julho, a principal artéria da capital uruguaia.
No pronunciamento, sob a estatua de Artigas, herói nacional uruguaio, Mujica comprometeu-se nos próximos quatro anos a diminuir em 50% a pobreza e pediu o fortalecimento do Mercosul. Terminou sua intervenção com vivas ao Uruguai e à América Latina, para delírio dos milhares de uruguaios presentes.
Encontro com PC Uruguaio
Antes da posse presidencial, a delegação do PCdoB foi à sede do Partido Comunista Uruguaio para um intercâmbio sobre a situação dos dois países e sobre a cooperação entre os dois partidos. A delegação foi recebida pelo senador Eduardo Lorier, secretário-geral do PCU, acompanhado por Ernesto Echapare, secretário de Relações Internacionais e por Juan Canessa, da Comissão Executiva, Rony Corbo e Fernando Sosa, membros da Comissão Internacional.
Ricardo Alemão e Inácio Arruda relataram distintos aspectos da situação política brasileira, do recém-realizado 12º Congresso do partido, das amplas perspectivas do momento atual do Brasil e dos objetivos do PCdoB aos camaradas uruguaios.
Estes, por sua vez, relataram o bom momento que vive o país, e em especial, as amplas possibilidades de fortalecimento do PCU. Os comunistas uruguaios trataram ainda da importância da candidatura de Ana Oliveira, membro do Comitê Central do Partido, à Intendência (Prefeitura) de Montevidéu, pela Frente Ampla (FA). A esquerda uruguaia começou a dirigir essa cidade em 1990, com a eleição do agora ex-presidente Tabaré Vasquez.
Ana Oliveira, com que a delegação do PCdoB também manteve contato, é amplamente favorita para ganhar as eleições de maio, podendo tornar-se assim a primeira mulher a dirigir Montevidéu.
A representação do PCdoB felicitou-a pela vitória nas eleições internas da FA e se colocou à disposição para incrementar a cooperação com as gestões municipais lideradas pelos comunistas no Brasil, como as que se desenvolvem em Olinda (PE) e Aracaju (SE), dentre outras.
A delegação brasileira também se fez presente na posse da ministra comunista Ana Vignoli como titular da pasta de Desenvolvimento Social. Ela é a representante do PCU que participa do ministério de Mujica, e uma das duas mulheres ministras. Recebidos no gabinete da recém-empossada ministra (foto) , como um de seus primeiros compromissos, a delegação do PCdoB ouviu atentamente seus planos para o ministério.
Fórum de São Paulo
No sábado (27/02), Ronaldo Carmona representou o Brasil na reunião dos partidos membros do Fórum de São Paulo no Cone Sul, convocada pela Frente Ampla, coalizão governante no Uruguai.
Carmona fez uma exposição sobre a situação brasileira, chamando atenção para o fato de o Brasil ter enfrentado a crise com uma ação anticíclica do Estado, estimulando o mercado interno. Observou, entretanto, dificuldades na política macroeconômica relacionadas às taxas de juros praticadas pelo BC e sobre o risco da sobrevalorização cambial para a indústria brasileira.
O representante do PCdoB apresentou ainda a visão do partido sobre as eleições de 2010, destacando a importância de explicitar a disputa entre dois projetos antagônicos de país e a necessidade de uma ampla unidade política e social das forças que apoiam o governo Lula, base para a continuidade e aprofundamento, no rumo das mudanças, do projeto iniciado pelas forças vitoriosas em 2002.
A reunião ouviu também informações sobre a conjuntura política dos demais países do Cone Sul, debateu a conjuntura da América Latina em meio a sinais importantes de continuidade de uma tendência progressista e antiimperialista, como foi a reunião de Cancún, na semana passada e os sintomas de reação, explícitos na visita da secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, a diversos países nesta semana.
A reunião debateu ainda a situação do Haiti, reiterando as posições anteriores do Fórum de São Paulo a favor de intensificar ações estruturais voltadas ao desenvolvimento do país caribenho.
A experiência da Frente Ampla
Na terça-feira, dia 2, Ricardo Alemão, Inácio Arruda e Ronaldo Carmona participaram do Seminário “A Construção da Unidade da Esquerda: a experiência uruguaia”, organizada pela Fundação Líber Seregni, na sede da Intendência Municipal de Montevidéu.
Ao longo do dia, quatro mesas debateram distintos aspectos desta experiência, partindo dos antecedentes da formação da Frente Ampla em 1971 e buscando elementos sobre os mecanismos que permitiram a convivência de distintas forças de esquerda e progressistas sob a mesma organização durante as últimas décadas. Outras mesas debateram o funcionamento da coalizão de esquerda e a experiência no governo e seus desafios.
O seminário contou com a presença de diversas forças políticas de vários países, interessadas em conhecer melhor a experiência unitária uruguaia.
Aula magna do presidente Rafael Correa
Ricardo Abreu e Ronaldo Carmona participaram, ainda na noite de terça-feira, pouco antes de retornar ao Brasil, de uma histórica aula magna proferida pelo presidente equatoriano Rafael Correa no Paraninfo da Faculdade de Direito da Universidade da República, em Montevidéu.
Intitulada “A crise econômica internacional e as experiências progressistas da América Latina”, a aula de Correa foi uma forte denúncia do neoliberalismo, em especial da crise capitalista que teve auge em 2009. Para o presidente equatoriano, que também é professor de economia da Universidade Central daquele país, o enfrentamento da crise se deu de maneira diferenciada nos países centrais e nos países em desenvolvimento. Os segundos, em especial os grandes países em desenvolvimento e as experiências progressistas da América Latina, conseguiram melhores resultados que os países centrais, ainda em recessão e com desemprego crescente.
O presidente equatoriano observou a gravidade da crise, e a insuficiência das medidas tomadas para enfrentá-la, uma vez que, para Correa, é uma “crise estrutural e sistêmica do capitalismo”, que voltará a se manifestar num período próximo.
Rafael Correa destacou a luta pelo socialismo como alternativa de fundo à crise do capitalismo e buscou sistematizar aspectos que conformam a constituição desta luta no atual período histórico. Correa também chamou a atenção para o feto de que não há modelo único de socialismo e que o socialismo se realizará de acordo com as feições especificas de cada país, conformando o socialismo equatoriano, uruguaio, argentino, etc.
Correa também fez um extenso balanço de sua experiência de pouco mais de três anos de governo, observando a retomada da soberania nacional e do papel do Estado como elementos-chave da política do Equador.
O presidente também falou das dificuldades e das sequelas causadas pelo neoliberalismo ao país, em especial a armadilha da dolarização, e apostou no avanço da integração regional, com o fortalecimento da Unasul, da recém-criada Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe, inclusive da constituição de uma “nova arquitetura financeira regional” como saída para os povos da América do Sul.
Balanço positivo
Ricardo Abreu considerou bastante positiva a presença dos comunistas brasileiros nestas diversas atividades no território uruguaio entre sábado e terça-feira.
O secretário de Relações Internacionais do PCdoB observou a importância de acompanhar mais de parto as experiências progressistas e antiimperialistas em curso na América Latina, de grande valor para os comunistas e o povo brasileiro.