O governo brasileiro deve finalizar, em alguns meses, um plano de ações voltadas para o tratamento mais específico de dependentes de drogas. O plano deve ser elaborado em parceria com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc) e a Organização Mundial da Saúde (OMS). Atualmente, o País não possui uma ação integrada de combate ao problema, como existe no caso da dengue, da Aids ou da gripe.
Segundo o Ministério da Saúde, pesquisas mostram crescimento do número de usuários de drogas no Brasil nos últimos anos, especialmente o crack. Na última semana, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, se reuniu com os representantes do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc) no Brasil e Cone Sul (Bo Mathiasen), e da Organização Mundial da Saúde (OMS) para tratar do assunto.
Segundo Bo Mathiasen, as entidades propuseram ao Brasil uma parceria na difusão de um programa global de atendimento e acompanhamento de dependentes de álcool e outras drogas. Funcionários do ministério, do Unodc e da OMS já traçaram um esboço do plano de ações. O documento deve ser apresentado oficialmente ao ministro na próxima semana.
O representante do Unodc revelou ainda que a estratégia é fortalecer o sistema de tratamento de dependentes considerados problemáticos – pessoas que já apresentam um perfil crônico de dependência da droga. No Brasil, o foco serão os centros de Atendimento Psicossociais (Caps), além da capacitação e o treinamento de profissionais de saúde. Há ainda a possibilidade de uma cooperação internacional, com objetivo de levar o trabalho brasileiro para outros países.
De acordo com Mathiesen, o ministro Temporão manifestou preocupação com a falta de ações na área de consumo de cocaína e derivados – em especial, o crack. Em 2008, do total de atendimentos de dependentes químicos na saúde pública, apenas 0,2% usava crack. Nos dois primeiros meses deste ano, o percentual saltou para 27%.
“Sendo prioridade, é uma questão de poucos meses [para que o plano fique pronto]”, disse o representante da ONU. “O foco são as políticas de tratamento do dependente químico problemático que deveriam ser muito mais voltadas para a saúde da pessoa e os direitos humanos. Uma ótica de acolher e ajudar e não de punir”, completou.
De acordo com o Unodc, o perfil da maioria dos usuários problemáticos de drogas incluiu pessoas que já sofreram abandono, violência doméstica, abuso sexual e exclusão familiar. As drogas, segundo Mathiesen, surgem nesse cenário como uma forma de recompor tais frustrações. “O mundo já reconhece que as pessoas [viciadas em drogas] não deveriam receber nenhum tipo de punição, mas acolhimento e tratamento”, afirmou.