Chávez diz que acusações contra Venezuela tentam impedir criação de órgão regional


O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou que as acusações contra seu governo têm o objetivo de obstruir a intenção dos países da América Latina de criar um organismo regional sem a presença dos Estados Unidos e do Canadá.

"Eles não gostam disso, e gostam menos ainda que a próxima cúpula será em Caracas. Tentarão sabotar a criação desse novo corpo, assim como a reunião que se realizará na capital venezuelana", disse o mandatário.

Na semana passada, chefes de Estado e de Governo se encontraram no balneário mexicano de Cancún para participar da XXI Cúpula do Grupo do Rio e da II Cúpula da América Latina e do Caribe (Calc), cujo objetivo era discutir a criação de um órgão regional com funções similares à Organização dos Estados Americanos (OEA).

Ao fim das reuniões, a nova organização foi aprovada e ficou estabelecido que se chamaria, temporariamente, Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos. O fórum começaria a operar a partir de julho de 2011, quando ocorrerá a Cúpula da América Latina e do Caribe na Venezuela.

"A audiência da Espanha, o governo de Obama [Barack, presidente dos Estados Unidos, ndr.] agredindo e, ao mesmo tempo, o giro da secretária de Estado [Hillary Clinton, ndr.] é uma ofensiva", observou Chávez, em um programa televisivo transmitido em cadeia nacional.

Nos últimos dias, um juiz da Audiência Nacional Espanhola — principal instância penal — garantiu ter provas de que Caracas ajudou a guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o grupo separatista basco ETA em planos para assassinar autoridades colombianas, entre elas o presidente Álvaro Uribe.

O magistrado Eloy Velascos defende que as Farc pediram ajuda ao ETA para atacar os dirigentes. A Venezuela é citada no caso pelo fato de um membro do grupo separatista, Arturo Cubillas Fontán, ter sido funcionário público na Venezuela.

Diante disto, o governo espanhol solicitou que o governo do país sul-americano preste esclarecimentos, enquanto Chávez repudiou a acusação, considerando-a "tendenciosa" e "infundada".

Também nos últimos dias, um relatório anual produzido pelo governo dos Estados Unidos sobre drogas afirmou que Caracas não coopera na luta contra o narcotráfico. O fato coincide com uma série de viagens que a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, está realizando pela América Latina.

O giro foi iniciado na segunda-feira, no Uruguai. Em seguida, a ex-primeira-dama dos EUA se dirigiu à Argentina e ao Chile. Hoje, no Brasil, Hillary deve se encontrar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Estes ataques contra nós serão uma agressão permanente, sobretudo quando [os outros governos, ndr.] se dão conta de que o projeto revolucionário avança", destacou o chefe de Estado venezuelano.