Em seu discurso de improviso, na reunião de cúpula dos países latino-americanos e do Caribe, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu a reformulação da Organização das Nações Unidas (ONU) e defendeu as Malvinas para a Argentina. Para Lula, este "é o momento político" de se discutir a reformulação do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Naquele momento, a presidente argentina Cristina Kirchner já havia deixado Cancún.
"É inexorável que a gente discuta este papel (do Conselho de Segurança da ONU). Não é possível que ele continue representado pelos interesses da Segunda Guerra Mundial. Por que isso não muda?", indagou. "Se nós não enfrentarmos este debate, a ONU vai continuar a funcionar sem representatividade e o conflito no Oriente Médio vai ficar por conta do interesse dos norte-americanos quando, na verdade, a ONU é que deveria estar negociando a paz no Oriente Médio", afirmou o presidente.
Na opinião de Lula, a ONU perdeu a sua representatividade. "Muitos países preferem a ONU frágil para que eles possam fazer do seu comportamento a personalidade de governança mundial", desabafou o presidente, que chegou a dar um murro na mesa enquanto falava, exaltado.
Lula ainda questionou a soberania britânica nas Ilhas Malvinas. "Qual é a explicação geográfica, política e econômica de a Inglaterra estar nas Malvinas? Qual a explicação política de as Nações Unidas já não terem tomado uma decisão dizendo: não é possível que a Argentina não seja dona das Malvinas e seja um país a 14 mil quilômetros de distância?", questionou.
Novo órgão
Ontem, os países latino-americanos e do Caribe concordaram em criar um novo organismo diplomático que não inclui os Estados Unidos e o Canadá.
Segundo Lula, o novo bloco mostra personalidade. "Não é um fato histórico qualquer. Eu diria que é um fato histórico de grande dimensão, na medida em que estamos conquistando hoje nossa personalidade como região", afirmou o presidente.
Lula destacou que o acordo firmado pode parecer "pouco para as pessoas que têm muita pressa", mas não o é para as pessoas que analisam o "tempo histórico". "A única saída que temos é trabalhar forte em nossa integração", acredita.
Ontem, durante a cúpula, o presidente do México, Felipe Calderón, afirmou que Lula é o "líder indiscutível" da América Latina. "Lula dá equilíbrio e força à América Latina", disse Calderón.
Na noite de ontem, o presidente brasileiro chegou a Cuba para visitar Fidel Castro e negociar investimentos milionários com o governo de Raúl Castro. Em sua quarta viagem a Cuba desde que chegou ao poder, o presidente brasileiro visitará na manhã de hoje o porto de Mariel, onde o Brasil tem investimentos, depois terá um encontro com Fidel, presidirá a sessão de grupos de empresários e se reunirá com Raúl Castro. Amanhã, ele deve fazer uma visita de cinco horas ao Haiti e, de lá, seguirá para El Salvador.