O debate sobre código florestal gira em torno de como aplicar os mecanismos de preservação do meio ambiente, levando em conta a realidade de um país continental, com inúmeros biomas, e um nível de desenvolvimento comandado por um modelo de desenvolvimento que produz forte desigualdade social. Essa é a realidade que deve guiar a discussão.
Renato Rabelo: "não serve o desenvolvimento predatório"
A análise foi feita pelo presidente do PCdoB, Renato Rabelo, na abertura do Seminário Código Florestal: Desenvolvimento e Defesa do Meio Ambiente, realizado nesta terça-feira (23), na Câmara dos Deputados, em Brasília. O evento foi promovido pela bancada do PCdoB na Casa, em parceira com o Instituto Maurício Grabois.
Para o dirigente comunista, o desenvolvimento acelerado e contínuo vai responder aos graves problemas sociais e de desigualdades no Brasil. Mas ele defende um desenvolvimento sustentável, sem cair nem no extremo de que o desenvolvimento é tudo e o meio ambiente é nada, porque o resultado vai se voltar contra nós; nem no outro extremo, que é santuarista, de não se tocar em nada, porque vai barrar o desenvolvimento.
“Queremos o desenvolvimento sustentável. Não serve o desenvolvimento predatório”, resume.
Situação privilegiada
Segundo o Presidente do PCdoB, todos os países precisam de desenvolvimento e, para isso, é preciso encontrar as formas e a energia para esse desenvolvimento, já que as novas fontes de energia renovável são questão central nesse debate.
E aponta o Brasil como um dos países em condições privilegiadas com relação a isso: “80% das fontes de energia do país são de hidrelétricas e estamos evoluindo na capacidade de conseguir fontes renováveis de energia, com o etanol e o biodiesel. Além disso, ainda descobrimos reservas de petróleo. Comparativamente com os outros países estamos em condições privilegiadas, que nos fornece autonomia energética para imprimir um desenvolvimento acelerado.”
Segundo Renato Rabelo, o desenvolvimento e meio ambiente estão relacionados. Não pode haver sociedade mais avançada sem desenvolvimento das forças produtivas, da base material da sociedade, que propicie bem estar para a sociedade. Mas, para isso, tem que haver intervenção na natureza e controlar as conseqüências que advém daí. O desenvolvimento da ciência e tecnologia garante que essa intervenção na natureza seja feita em condições de desenvolvimento sustentável.
Luta entre ricos e pobres
Para o dirigente comunista, o desenvolvimento do capitalismo levou a um desenvolvimento desigual. “Isso é uma realidade objetiva, não é constatação de um partido comunista”, enfatizou, acrescentando que o capitalismo levou a divisão internacional do trabalho em função do sistema de poder mundial, com grandes potências industriais e um conjunto de países periféricos, com os países ricos impondo suas condições aos países mais atrasados.
Esses países chamados da periféricos precisam de desenvolvimento acelerado e contínuo para alcançar os países desenvolvidos, defendeu Renato Rabelo, citando o exemplo da China, que se tornou uma potência crescente.
“Em contrapartida, em função do estágio atual da vida do planeta, do nível populacional, esses países atrasados, na imposição dos poderosos, têm que conter ou moderar o seu desenvolvimento, porque eles (os poderosos) dizem que, se todos se desenvolverem, o planeta será degradado e caminha para sua extinção”, explica.
Essa luta entre ricos e pobres é uma luta permanente e está presente na discussão hoje dos destinos do nosso planeta, afirma Renato, para quem o encontro sobre clima de Copenhagem demonstrou claramente a luta entre os ricos, querendo impor suas condições, e os periféricos, lutando contra isso.
E acusa os países industrializados de quererem jogas nas costas dos países pobre e em desenvolvimento o ônus pela depredação do planeta, cuja responsabilidade é deles. E lembrou que o presidente do Estados Unidos, Barak Obama sugeriu criar um organismo internacional para vigiar os países em vias de desenvolvimento para evitar a emissão de gases poluentes responsáveis pelo aquecimento global.
O secretário de Meio Ambiente do PCdoB, Aldo Arantes, que abriu o evento, disse que o assunto sobre o novo código florestal tem opiniões diferenciadas e o objetivo do seminário é fazer análise objetiva, “que nos leve, de forma racional, a compatibilizar os dois aspectos que são as necessidades do país e da preservação ambiental”, explicou.