Um terço dos mais de 900 milhões de pessoas imersas na pobreza extrema no mundo são membros de comunidades indígenas, vítimas de um legado de discriminação e injustiças históricas, apontou um relatório da ONU divulgado na quinta-feira.
Pelo estudo, o primeiro encomendando pela ONU sobre a situação global dos povos indígenas, denuncia que os 370 milhões de indígenas do mundo "constituem uma parte desproporcional da população pobre, analfabeta e desempregada" do planeta.
"Os povos indígenas sofrem as consequências das injustiças históricas, como a colonização, a perda de suas terras e recursos, a opressão e a discriminação", detalhou o relatório apresentado ontem na sede da ONU pelo Fórum Permanente para Assuntos Indígenas do organismo.
Segundo os autores, um terço dos 900 milhões de pessoas mais pobres do planeta são indígenas, apesar deles constituírem somente 5% da população mundial.
Assinala que um indígena no Paraguai tem uma probabilidade 7,9 vezes maior de ser pobre que o restante da população. Esse mesmo número no Panamá é 5,9 vezes, de 3,3 vezes no México e de 2,8 vezes na Guatemala.
"Os estudos das condições socioeconômicas dos povos indígenas na América Latina demonstraram que ser indígena está associado à pobreza e que, com a passagem do tempo, essa condição perdurou inclusive entre os que conseguiram estudar" afirma o documento de 238 páginas.
Também denuncia que os trabalhadores indígenas na região ganham metade dos salários dos não indígenas, em grande parte devido à discriminação e as falhas na qualidade do ensino, particularmente na Bolívia.
Além disso, as comunidades indígenas são vítimas de conflitos internos na Colômbia, ações que nas três últimas décadas gerou a fuga de milhares de suas terras ancestrais.
Os autores consideram grave a situação de saúde dos povos indígenas, que em geral não têm acesso à nutrição adequada.
Isso explica o fato da expectativa média de vida de um indígena no mundo ser 20 anos inferior a do restante da população do planeta, já que estas comunidades sofrem altos com índices de mortalidade infantil e maternal, doenças cardiovasculares, assim como aids e tuberculose.
Na América Latina, a taxa de mortalidade infantil nas comunidades indígenas é 70% maior que no restante da população, apesar dos grandes avanços conquistados nos últimos anos na região, cita como exemplo o relatório.
Também como exemplo que 95% dos indígenas hondurenhos menores de 14 anos sofrem de desnutrição.
Outra "ameaça considerável" que o documento alertou foram os episódios de expulsões dos indígenas de suas terras e territórios e a expropriação de seus recursos, em muitos casos por motivos econômicos.
"Quando os povos indígenas reagem e tratam de defender seus direitos, sofrem agressões físicas, prisões, torturas, e em alguns casos inclusive a morte", disse o relatório.
Além disso, advertiu que a situação das comunidades indígenas nos países desenvolvidos também não está isenta de dificuldades que enfrentam outros povos em partes mais pobres do mundo.
Em países como a Austrália, os indicadores de saúde dos indígenas são piores que os do restante da população, têm menor expectativa de vida e seu índice de desemprego é maior, apontou o documento.