O trecho de 93km da Ferrovia Transnordestina, entre este município e Salgueiro (PE), está quase pronto para entrar nos trilhos. Estão sendo concluídas as obras-de-arte (pontes e barragens, diques e muros) e o dois túneis. Um deles passará por baixo da CE-293, que liga Missão Velha à BR-116, em Brejo Santo, na altura da localidade denominada de "Café da Linha". O outro passará por baixo da CE-296, que dá acesso à cidade de Porteiras, no Sítio Lagoa do Mato.
A imprimação, que consiste na aplicação de óleo asfáltico em cima da terraplenagem, onde serão instalados os trilhos, já está praticamente pronta. A reportagem do Diário do Nordeste percorreu cerca de 50km por cima da via já imprimada, nos municípios de Missão Velha, Brejo Santo e Jati. Essa etapa já está feita até Salgueiro, mas em alguns pontos são utilizados desvios em razão de procedimentos ainda em conclusão.
Ao longo do percurso, estão sendo construídas passagens de nível, grandes bueiros de concreto armado, com 5m de altura e 4m de largura, que vão possibilitar a circulação de ônibus, caminhões, carros pequenos e animais para o outro lado da ferrovia. Também estão sendo abertos os canais de drenagem das águas da chuva.
Proteção das encostas
O trabalho mais demorado é a abertura dos túneis. Na CE-293, está sendo executada a proteção das encostas da rodovia com cimento, ferro e concreto. Concluído o revestimento dos dois lados da estrada, será iniciada a abertura do túnel que terá 68 metros de extensão, 9m de altura e 7m de largura. As escavações serão feitas com explosões. A cada dois metros de túnel aberto será construída a estrutura de cimento armado.
A linha que liga Salgueiro ao Porto de Suape, em Pernambuco, já existe, mas está sendo reconstruída. Isso porque a ferrovia atual é em bitola métrica, ou seja, os trilhos têm um metro de distância um do outro, e as ferrovias modernas são feitas em bitola larga, com 1,6 metro de distância. O mesmo ocorre com o trecho entre Missão Velha e Fortaleza. A linha férrea será alargada para atender à bitola dos novos vagões.
Entre os proprietários de terras cortadas pela ferrovia, o clima é de expectativa. Muitos não acreditam na vinda do trem, apesar do avanço das obras. Já os funcionários das construtoras estão entusiasmados. Eles dizem reconhecer a importância da ferrovia para o Nordeste.
O operário Antônio Gilberto, que reside no município de Abaiara, diz não ver a hora de ouvir o apito do trem. "Para mim, é um orgulho trabalhar na construção desse sonho que, na verdade, é o sonho de todos os nordestinos", complementa. Já o mestre de obras, Maurício Pereira Gomes, que veio de Recife para trabalhar no Ceará, lembra que a ferrovia vai desafogar o trânsito da BR-116, que agora tem o nome de Santos Dumont.
O otimismo do operário traduz o entusiasmo do presidente Lula, que considera a ferrovia como um instrumento de desenvolvimento econômico, social e ambiental integrado e sustentável da região.
A obra, que cortará o Nordeste pelo interior, fazendo um ´Y´, vai facilitar o acesso ao sistema hidroviário do Rio São Francisco e ao ferroviário já existente. Suape ganhará um terminal de grãos exclusivo.
O Governo Federal prevê a interligação da Transnordestina com a Ferrovia Norte-Sul – o que proporcionaria ligação com o Porto de Itaqui, no Maranhão e com a região Sudeste.
INDENIZAÇÃO DE TERRAS
Desapropriações são aceleradas
Missão Velha As desapropriações de terra e licenças, que vinham atrasando as obras da Transnordestina, foram aceleradas nos últimos meses. Os governos do Ceará, Piauí e de Pernambuco decidiram auxiliar no processo, cedendo mão-de-obra dos seus próprios Estados. Pernambuco, por exemplo, colocou sua Procuradoria para ajudar nas desapropriações feitas pelo Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes.
Foram realizadas ontem, em Limoeiro do Norte, audiências para pagamento de indenizações dos processos de desapropriação dos 68 imóveis, localizados no município de Piquet Carneiro, numa extensão de 20 quilômetros, que serão cortados pela Ferrovia Transnordestina.
O julgamento das ações impetradas pela Procuradoria do Estado foi feito pela 15ª Vara da Justiça Federal de Limoeiro do Norte, com a presença das partes envolvidas no processo.
Solução de pendências
O procurador do Estado, Germano Vieira da Silva, que acompanhou as audiências em Limoeiro, se desloca hoje para o Cariri, a fim de resolver algumas pendências das audiências realizadas nos dias 14 e 15 de setembro pela 16ª Vara da Justiça Federal, com sede em Juazeiro do Norte, quando foram homologadas 73 desapropriações de terrenos nos municípios de Aurora e Missão Velha, um trecho de 20 quilômetros. As desapropriações totalizaram o valor de R$ 265 mil.
Está prevista outra rodada de negociações, em data a ser marcada, para desapropriações de 10 quilômetros de ferrovia no município de Itapiúna.
O percurso de Missão Velha ao Porto do Pecém, em São Gonçalo do Amarante, foi dividido em três etapas. O mutirão de audiências realizado ontem em Limoeiro do Norte faz parte do segundo ciclo de negociação em território cearense.
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