A dissonância surgida entre o líder da Resistência Contra o Golpe de Estado, Juan Barahona, e Manuel Zelaya, quanto à permanência ou não da reivindicação por uma Assembleia Constituinte durante as reuniões com representantes dos golpistas, demonstrou que dificilmente o movimento abdicará dessa bandeira.
A resistência organizada surgiu informalmente, mesmo antes do fatídico 28 de junho, quando Zelaya foi deposto do poder, e um número grande de pessoas que apoiavam a consulta popular sobre a quarta urna – que poderia originar uma eleição para a formação de uma Assembleia Constituinte – acompanharam e protegeram o presidente durante a recuperação do material da consulta, confiscado à época.
Essa mesma gente que, enquanto saía de casa para votar e descobriu ao mesmo tempo o seqüestro e expatriação de Zelaya, se dirigiu imediatamente à sede do governo. Muitos que talvez não tivessem um interesse genuíno pela consulta popular se reuniram aos outros nesse dia.
Mais de 100 dias após o golpe de Estado, com constantes violações de direitos humanos, toques de recolher, estados de sítio – sendo que o último ainda segue em vigor, pois a derrogação não foi publicada no diário oficial – serviram para que muitas pessoas se unissem à resistência.
A grande marcha feita em 15 de setembro, dia em que se festejava a independência de Honduras e que reuniu muitos efetivos militares e policiais, ocupados desfilando, mostrou o apoio popular dado à resistência.
E isso se deve também ao fato de a resistência ser um espaço de luta que aglutina organizações sociais de todos os tipos, grêmios, sindicatos, comunidades, artistas, partidos políticos tradicionais e independentes, setores católicos e protestantes da igreja e etnias hondurenhas diferentes, todos em desacordo com a ditadura que existe hoje.
As discrepâncias que existem entre tanta diversidade de pensamento têm um denominador comum que as tornam mais fortes: a Assembleia Constituinte, e não a figura de Zelaya, apesar de boa parte exigir sua volta. A assembleia é um mecanismo muito comum na história para fazer um país retornar à constitucionalidade mas, sobretudo, uma que contemplasse todos os espaços de opinião e decisão como nunca antes.
Hoje a resistência já não marcha pelas ruas comerciais e residenciais. A repressão fez com que se restringissem aos bairros onde conhecem o terreno e graças a isso, focos de insurreição e desacato se multiplicam simultaneamente em toda a cidade. A polícia anti-motim não tem força suficiente e só lhes resta a tarefa de espectador de primeira fila do povo.