Nos parques de Pequim, terceira idade esbanja talento no tai chi chuan


Enquanto os atletas chineses fazem bonito nas Olimpíadas, liderando o quadro de medalhas, outro time não deixa por menos nos parques de Pequim. São homens e mulheres que, embora aposentados, acordam todo dia entre 5h e 7h da manhã para dançar, fazer tai chi chuan, jogar peteca, frescobol… e socializar.

Como incentivo, a prefeitura de Pequim instalou equipamentos de ginástica em mais de mil pontos da cidade como praças, calçadas e condomínios. Mas a lição básica é ensinada ainda na sala de aula: fazer exercício é fundamental para o bom funcionamento do corpo e da mente.

Nas escolas, depois de duas horas de estudo, uma pausa é obrigatória – e não é para brincar de pique-esconde ou bater papo. Os pequenos chineses param para fazer alongamentos e outros exercícios, para compensar o tempo em que ficam debruçados sobre as carteiras. Depois de adultos, lotam os parques e praças da cidade (praticamente todos pagos).

Impressionam os movimentos sincronizados de fitas, leques, espadas… a habilidade de senhores e senhoras em esportes inusitados como as “embaixadinhas” com peteca de Hao, de 70 anos. Ela joga todos os dias, invariavelmente, há dois anos, no Parque Ditan, no bairro residencial de Dongchen. Aprendeu observando, e daria inveja a muito jogador e jogadora de seleção.

Yi, de 75 anos, é analista contábil aposentada e pratica uma espécie de aeróbica com outras 60 pessoas. Diariamente, há dez anos, uma hora por dia. “É bom para a saúde”, diz em uma rápida pausa. Preguiça de levantar cedo todo dia? “Nunca”, responde ela, voltando rapidamente aos exercícios. Quem comanda o grupo é uma engenheira aposentada voluntária, de 53 anos – na China, as mulheres se aposentam com 50 anos e os homens, com 55.

Em outro ponto da cidade, no parque onde fica o famoso Templo do Céu, Liu, de 78 anos, mostra toda sua destreza ao jogar uma variação do frescobol: no lugar da bola, peteca. E uma raquete em cada mão. Pratica esse tipo de esporte há três anos, também diariamente. Antes fazia corrida, dança… “É muito bom, a gente não pode ficar parado. Tem que fazer exercício para o corpo funcionar bem”, ensina.

Perto dali, Mao, de 61 anos, prefere uma atividade mais lúdica. Com um balde d’água e um longo pincel, pinta efêmeros poemas no caminho de pedras que permeia o gramado. Numa rápida conversa, fala do futebol brasileiro e cita o Ronaldinho. A nosso pedido, escreve “Boa Sorte Brasil”. Não imaginava que algumas horas depois, a seleção brasileira de futebol venceria a China por 3 a 0.