O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e seu colega colombiano, Álvaro Uribe, encontraram-se hoje com o objetivo de reaproximar os dois líderes, após meses de trocas de acusações que quase levou a uma crise diplomática e também prejudicou um comércio bilateral que movimenta bilhões de dólares anuais. O principal crítico dos Estados Unidos (Chávez) e o principal aliado de Washington na América Latina (Uribe) decidiram se encontrar pois, segundo analistas, ambos ganham politicamente com a normalização das relações.
Os países são importantes parceiros comerciais, com US$ 6 bilhões (R$ 9,6 bilhões) movimentados no comércio bilateral no último ano. Uribe disse ainda que pretende assinar acordos para ligar os dois vizinhos andinos por duas novas ferrovias. Antes de cumprimentar Uribe com um aperto de mão, Chávez disse a repórteres que as conversas no complexo de refino de petróleo de Paraguana, na costa caribenha, tinham como objetivo um "relançamento da cooperação, da paz". Foi o primeiro encontro dos dois desde agosto.
Para os dois presidentes, "o interesse no momento é baixar o nível de confrontação e fortalecer as relações em áreas comuns, especialmente na economia", segundo o analista Sadio Garavini, um ex-diplomata venezuelano. As relações chegaram em seu pior momento em décadas em março, após a Colômbia realizar uma operação militar em território equatoriano. Na investida foi morto o então número 2 das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Raúl Reyes.
Chávez respondeu à operação enviando tropas para a fronteira entre Venezuela e Colômbia, retirando o embaixador de Bogotá e ameaçando restrições ao comércio bilateral. O presidente venezuelano posteriormente retomou as relações – atitude que o Equador ainda não teve. Durante uma discussão sobre o papel de mediador de Chávez com as Farc, o venezuelano chamou Uribe de "peão do império norte-americano". "Um homem assim não merece ser presidente de um país. Covarde, mentiroso", disse. Meses atrás, o presidente da Venezuela afirmou que a reconciliação com Uribe era impossível.
A Colômbia, por sua vez, acusou Chávez de oferecer um empréstimo de pelo menos US$ 250 milhões (R$ 400 milhões) às Farc. O governo de Uribe disse que essa informação estava em um documento apreendido de um laptop que estava no campo de guerrilheiros atingido na operação que matou Reyes. Bogotá também acusou os venezuelanos de darem abrigo a vários líderes rebeldes. Chávez nega as acusações.
Reconciliação
O presidente da Venezuela fez declarações conciliatórias recentemente, quando pediu às Farc que se desarmem e entreguem os reféns. Antes, Chávez chegou a pedir aos líderes mundiais que reconhecessem o grupo como um exército legítimo de insurgentes. Com a mediação de Chávez, os rebeldes libertaram seis reféns neste ano. Mas depois as Farc afirmaram que não realizariam outras libertações unilaterais.
Na semana passada, os militares colombianos resgataram 15 rebeldes, entre eles a ex-candidata à presidência do país, Ingrid Betancourt. Com isso, a popularidade de Uribe subiu ainda mais, batendo na casa dos 90% em algumas pesquisas. "Uribe está fortalecido internacionalmente", enquanto "Chávez percebeu que estava com o cavalo perdedor", avaliou Rafael Nieto, um analista colombiano e ex-vice-ministro da Justiça. Para ele, o venezuelano busca agora ajustar suas relações com o vizinho.
Chávez busca fortalecer seu capital político às vésperas de eleições municipais e estaduais em novembro. Manter um conflito com a Colômbia poderia ser impopular entre os venezuelanos. O colombiano tem outro argumento para dissipar as tensões: o comércio. "Uribe está defendendo os interesses do setor privado colombiano, que fez importantes investimentos na Venezuela e que ele deve proteger", disse Adolfo Tayhardat, analista e ex-diplomata venezuelano.