Cai desigualdade de renda do país


Um levantamento inédito feito pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), vinculado ao NAE (Núcleo de Assuntos Estratégicos) da Presidência da República, aponta queda de quase 7% no Índice de Gini na renda do trabalho no Brasil, entre o quarto trimestre de 2002 e o primeiro de 2008.

Segundo os dados apresentados, o Índice de Gini melhorou porque a recuperação da renda dos mais pobres é quase cinco vezes maior que a recuperação da dos mais ricos.

O Índice de Gini mede a desigualdade de um país, varia de 0 a 1; quanto mais perto de 1, maior desigualdade; quando mais perto de zero, menor desigualdade.

O levantamento foi feito a partir dos microdados da PME (Pesquisa Mensal de Emprego) do IBGE. Os dados completos apresentam a comparação trimestral entre 2002 e 2008 e a renda média do trabalho atualizada até 2008, por décimos da população. Ou seja, valores de renda desde os 10% mais pobres até os 10% mais ricos.

Para a análise, o instituto divide os trabalhadores ocupados em dez faixas, sendo a primeira os 10% com menor renda e, assim por diante, até a última, com os 10% com maiores rendimentos. Os 10% com menor renda registraram aumento de 21,96% nos salários entre 2003 e 2007, passando de R$ 169,22 mensais para R$ 206,38, em média.

Já os 10% com maior renda registraram ganhos de 4,91%, passando de salário médio de R$ 4.625,74 em 2003 para R$ 4.853,03, no mesmo intervalo.

Dentro desse período, a maior variação da baixa renda foi observada entre 2006 e 2007, quando os salários registraram ganho de 9,4%, na média. No mesmo intervalo, a média de aumento salarial foi de 3,2%, considerando todas as faixas de renda. Já o grupo dos maiores rendimentos registrou aumento de 2,6%, em média.

Próximo passo

Para o presidente do Ipea, Márcio Pochmann, a série de reajustes do salário mínimo acima da inflação e os programas de transferência de renda tiveram impacto fundamental na redução da desigualdade no país.

Apesar de levar em conta apenas algumas regiões metropolitanas do país, essa é a melhor avaliação desde o início do levantamento, em 1960, quando o índice também ficou em 0,50. “É a primeira vez que vemos uma redução do índice de Gini mesmo com o crescimento econômico. Apesar da tendência de redução da desigualdade, ainda estamos no grupo de países em que o índice ficou acima de 0,45, uma diferença primitiva”, afirmou.

Pochmann alertou que, apesar de haver uma melhor divisão da renda proveniente do trabalho, a massa total de rendimentos ainda tem uma participação pequena em relação ao PIB. Em 1995, 48,8% da riqueza do Brasil era composta pela renda da população. Em 2005, esse percentual recuou para 39,1%.

“É necessário um conjunto de outras políticas para fazer os salários aumentarem sua participação na renda nacional [PIB]”, disse o presidente do Ipea. Ele defende que se faça isso por meio da tributação, tornando a cobrança de impostos progressiva para as maiores faixas de renda. Pochmann avalia ainda que a reforma tributária que está no Congresso é tímida em relação a esse ponto.