A Comissão de Relações Exteriores do Senado (CRE) ouviu nesta terça-feira () em reunião o ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Roberto Abdenur. A audiência com o ex-embaixador foi motivada por entrevista que ele concedeu à revista Veja, onde criticou o Ministério das Relações Exteriores, acusando-o de fazer uma espécie de patrulha ideológica com seus integrantes. Abdenur fez um resumo da sua gestão no período em que esteve à frente da embaixada em Washington e explicou que a entrevista teve grande repercussão porque o assunto já estava sendo discutido por algumas pessoas, embora não na dimensão em que deveria ser tratado.
O Senador Inácio Arruda participou do debate na CRE afirmando que o debate sobre os rumos da política externa é muito salutar para o Congresso e que deve ser enfrentado com serenidade. A respeito da carreira diplomática, o Senador afirmou que existem vários pontos de divergência, alguns menores, outros mais complexos. Inácio citou como exemplo a exigência de que os embaixadores sejam diplomatas de carreira. “Quantos excelentes diplomatas o Brasil teve ao longo da história e que não eram da carreira do Itamaraty. Alguns fizeram importantes acordos, que ampliaram ou diminuíram suas fronteiras. A presença desses membros oxigenam as idéias da diplomacia, trazem outros ventos”, relembrou.
Inácio mencionou a questão da disputa entre Alca e Mercosul, ressaltando que se trata de uma escolha política e econômica. “As pessoas ficam pensando que globalização é uma coisa de agora, mas não é. Ela vem desde os tempos das grandes navegações. O Brasil vem procurando diversificar suas relações internacionais: países do Cone Sul, da África, países do Oriente, do mundo árabe; mas tudo isso pode ser feito sem abandonar as relações que temos com a Europa e os Estados Unidos”, ressaltou.
Inácio defendeu que se fortaleça primeiro o Mercosul para só então fazer uma aproximação com a Alca. Ele fez um alerta sobre o poder de negociação dos Estados Unidos e da necessidade do Brasil estar bem preparado para entrar no jogo político que envolve um bloco econômico desse porte: “Nosso potencial pode crescer e muito. Vamos fortalecer o Mercosul, aguardar cerca de 20 ou 30 anos. Existe um tipo de Alca que interessa ao Brasil e ao Mercosul e tem uma outra Alca, que interessa aos americanos. Aqui é aquela velha máxima: amigos, amigos, negócios a parte”, destacou.
O parlamentar defendeu a forma como o Itamaraty vem conduzindo os trabalhos em relação à política externa brasileira. “Muitas vezes um ataque à nossa política externa pelos nossos adversários é um sinal de que ela não está tão ruim. Vamos encarar o ataque, examinar e ver o que há de positivo na crítica para melhorar nossa política. O embaixador Abdenur ajudou a debater esse tema da política externa aqui na comissão, e aprimorarmos mais ainda essa relação”, destacou.
O embaixador Abdenir agradeceu a oportunidade do debate e disse acreditar no potencial brasileiro de política externa. Ele defendeu a posição de que os embaixadores sejam do quadro diplomático alegando maior necessidade de conhecimento técnico. Quanto à Alca, reafirmou que os interesses dos países componentes devem ser preservados: “A idéia principal é bifurcação, ou seja, em vez de um pacote único, um conjunto de direitos e deveres que garantam as liberdades de pequenos grupos. A ênfase do Brasil na negociação sempre foi nos acessos de mercado, e não vemos com bons olhos a imposição de certas que tragam prejuízo para interesses do Brasil e do Mercosul como tal”, afirmou Abdenur.
Por iniciativa do Senador Inácio Arruda, a CRE deve ainda realizar audiência com o Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, para debater as declarações de Abdenur.