Brics: Movimentos sociais debatem luta pela paz


Brics: Movimentos sociais debatem luta pela pazDiversas frentes dos movimentos sociais realizaram na última terça-feira (15/07) na Assembleia Legislativa do Ceará o seminário “Brics, os movimentos sociais e a luta pela paz mundial”. A palestra ministrada por Socorro Gomes, presidenta do Conselho Mundial da Paz, faz parte da programação realizada simultaneamente a VI Cúpula do Brics, que reuniu em Fortaleza chefes de estado dos países que compõem o bloco: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Mulheres, jovens, estudantes secundaristas, entidades em defesa da paz e da livre orientação sexual participaram do debate que buscou apresentar a relação entre o bloco formado pelos países emergentes, os movimentos sociais e a luta pela paz mundial. Após a realização da Copa do Mundo, sediando seis jogos do mundial, Fortaleza continua em pauta ao, nesta terça-feira, abrigar uma das principais reuniões do mundo.

Socorro Gomes, considerou que as questões ligadas aos povos, como a soberania dos países, a defesa da paz e o combate à miséria não podem estar apenas nas mãos dos governantes. “Algumas pessoas pensam que isso é decisão de chefes de estado, mas os movimentos sociais já perceberam que, para mudar, temos que participar ativamente da construção dessas ideias. Fortalecer uma cultura de paz é também papel nosso e temos que ser protagonistas nesta luta”.

A presidenta do Conselho Mundial da Paz destacou que a atual ordem mundial é regida por “um punhado de países que buscam defender seus próprios interesses”. “Para isso, controlam órgãos internacionais, como a ONU e o FMI, o que é dito na imprensa, no cinema, na internet e até nas redes sociais”, alertou.

Segundo Socorro Gomes, esta ordem mundial é marcada por uma dominação do mundo com controle também militar, sempre próximo a fontes de energia. “Os Estados Unidos contam com quase mil bases militares em países estrangeiros, a maioria delas em cima de recursos naturais, quer seja minério, petróleo ou biodiversidade. Suas frotas estão em todos os oceanos e mares, isso sem falar no controle aéreo, com mísseis e drones (aviões não tripulados) de alta tecnologia. Todo este aparato está a serviço dessa política de guerra em detrimento da soberania e autonomia de nações com o objetivo de dominar, saquear as riquezas e obter ainda mais poder”.

Socorro Gomes citou os conflitos no Oriente Médio como exemplos desta tentativa de avanço imperialista. “Afeganistão, Iraque, Síria e Líbia sofrem diretamente estes ataques. O intuito dos Estados Unidos é destruir países que tem soberania e colocar governos que atendam aos seus interesses, sob o falso argumento dos direitos humanos, para impor seu modo de vida a outros países”.

A partir daí, ressaltou, surgem as resistências. “A América Latina é rico exemplo, com governos marcados pela resistência. Um índio na Bolívia, um metalúrgico no Brasil e um crioulo na Venezuela”, citou. “Já com o nascimento do Brics, abre-se também a necessidade de resistir ao rolo compressor das potências imperialistas e reforça esta ideia de resistência, buscando outro caminho possível”, ratificou.

A presidenta do Conselho Mundial da Paz considera “avançada” a ideia de buscar a integração entre nações tão distintas. “Apesar das diferenças, temos muitas afinidades, pois estes países que compõem o Brics e outros em desenvolvimento não aceitam o tacão dos Estados Unidos, buscam fortalecer suas economias e se fortalecer como bloco”.

Participação popular

Mas nem só em economia deve pensar estes países aliados. Para Socorro Gomes, “eles necessitam ouvir a voz do povo”. “Queremos uma agenda que leve em conta o nosso pensamento, não só focado no desenvolvimento econômico, mas também no compromisso com a paz e em defesa de uma nova ordem mundial, com outros paradigmas. O primeiro dele, o respeito aos países e suas nações”, defendeu.

“Neste momento vários pontos de conflito estão ativos. Israel intensifica sua política genocida e com o apoio da mídia, que inverte os papeis. O povo palestino é vítima e a questão que está por trás deste embate é territorial. Eles utilizam a religião para ter simpatia, sugerindo que os palestinos são terroristas. Que guerra é essa que só morre pessoas de um lado?”, questionou. Socorro defendeu que este deveria ser “um ponto que o Brics deverá se posicinar de forma mais firme”.

E esta “posição firme” deve se estender também na defesa do fortalecimento de uma cultura de paz. “É papel destes países e nosso, dos movimentos sociais, defender a soberania dos povos, aprofundar os laços de solidariedade e combater o imperialismo. O Brics deve ampliar suas questões políticas mas abordar também os anseios do povo. A questão econômica é importante na medida em que esteja ligada à questão da justiça social, da democracia e da autonomia dos países”, defendeu.

Socorro Gomes sugeriu ainda que o Brics “seja, de fato, instrumento que se posicione”, propôs a multiplicação de debates como este em escolas, associações e bases partidárias. “É nosso dever construir coletivamente uma cultura de paz e derrotar esta política de guerra. Defendemos, acima de tudo, a solidariedade entre os povos, nações e movimentos sociais. Se o Século XX foi de muita batalha e grandes avanços, o Século XXI pode ser o passo inicial da consolidação da cultura de paz”, finalizou.

Interação

Germana Amaral, diretora da UNE no Ceará, destacou a iniciativa do Brics de protagonizar o debate de novos rumos para a economia mundial. Já Sarah Oliveira, presidente da UJS-CE avaliou como fundamental a fundação de um banco para consolidar a política econômica destes países. “O avanço que este bloco trás para os países e a população que eles representam irá diminuir a divergência econômica, exercendo papel crucial”. A estudante ressaltou ainda o repúdio ao “genocídio contra os povos palestinos”. “Nem a juventude e nenhum movimento social pode se calar diante desta violência”.

Já Natanael Mota, presidente da Federação de Bairros e Favelas de Fortaleza, ressaltou que debates como este devem ser amplificados, divulgados e levados a outros locais. “Escolas, associações de bairros, universidades. É também nosso papel esclarecer as pessoas sobre o que representa um evento como este. Muita gente não acompanha e precisa se engajar na luta em defesa da paz e contra o imperialismo”.

De Fortaleza,
Carolina Campos